quando é que começamos?
A noite assentara sobre Slemdal. A porta abriu-se, e um homem e uma
mulher apareceram nas escadas. Despediram-se dos seus anfitriões entre
gargalhadas, desceram o carreiro, o cascalho a estalar sob sapatos pretos e
reluzentes enquanto comentavam em voz baixa a comida, o anfitrião, a
anfitriã e os outros convidados. Assim, ao saírem do portão para a
Bjørnetråkket, não repararam no táxi estacionado um pouco mais abaixo na
estrada. Harry apagou o cigarro, aumentou o som do rádio do carro e ouviu
Elvis Costello a cantar «Watching the Detectives». Na P4. Já tinha reparado
que quando as suas antigas músicas favoritas eram suficientemente antigas,
acabavam em estações radiofónicas tépidas. Como é natural estava consciente
de que isso apenas podia significar uma coisa – também estava a ficar velho.
No dia anterior, tinham tocado Nick Cave depois de Cliff Richard.
Uma voz nocturna e insinuante apresentou «Another Day in Paradise» e
Harry desligou o rádio. Baixou a janela e ouviu o latejar abafado que vinha da
casa de Albu, o único som que remexia o silêncio. Uma festa de adultos.
Contactos de negócios, vizinhos e antigos colegas da universidade. Não bem
«The Birdy Song» nem bem uma rave , mais gins-tónicos, Abba e os Rolling
Stones. Pessoas no final da casa dos trinta com educações superiores. Por
outras palavras, que não ficavam até muito tarde por causa das babysitters.
Harry olhou para o relógio. Pensou no novo e-mail que recebera quando ele e
Øystein tinham ligado o computador:
Estou aborrecido. Estás assustado ou és apenas estúpido?
S2MN
Deixara o computador nas mãos de Øystein e pedira-lhe emprestado o táxi,
um Mercedes decrépito dos anos 70, que estremecera como um velho colchão
de molas sobre as lombas quando chegara à zona residencial, mas que ainda
era um sonho conduzir. Decidira esperar quando vira os convidados
formalmente vestidos a saírem da casa de Albu. Não havia motivos para fazer
uma cena. E, de qualquer maneira, precisava de algum tempo para pensar nas
coisas antes de fazer algo estúpido. Harry tentara ser frio e racional, mas
aquele Estou aborrecido intrometera-se no caminho.
– Agora já pensaste nas coisas – murmurou Harry a olhar para o retrovisor.
- Agora podes fazer algo estúpido.
Vigdis abriu a porta. Executara aquele truque mágico que apenas as
ilusionistas femininas conseguem executar e que os homens nunca conseguem
descobrir: tornara-se bela. A única alteração específica que Harry viu foi que