Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

abrir.


Beate pressionou a campainha e ouviram o toque irritante no interior da
casa. A janela da vizinha fechou-se, e pouco depois estavam a olhar para um
rosto pálido com olheiras de um preto-azulado sob olhos sem qualquer
expressão. Trond Grette vestia um roupão amarelo. Parecia ter acabado de se
levantar, depois de ter estado a dormir durante uma semana. E como se isso
não tivesse sido o suficiente. Sem uma palavra, levantou a mão e fez-lhes
sinal para entrarem. Um raio de Sol brilhou quando a luz incidiu no anel de
diamantes, que se encontrava no mindinho da sua mão esquerda.


– Lev era diferente – disse Trond. – Tentou matar um homem aos quinze
anos.


Sorriu para o espaço, como se a recordar algo que lhe era querido.
– Parece que nos deram um conjunto completo de genes para partilhar entre
ambos. O que ele não tinha, eu tinha e vice-versa. Crescemos aqui em
Disengrenda, nesta casa. Lev era uma lenda na zona, mas eu era apenas o seu
irmão mais novo. Uma das primeiras coisas de que me lembro foi um
incidente que ocorreu na escola, quando Lev se estava a equilibrar no telhado
durante um intervalo. O edifício tinha quatro pisos e nenhum dos professores
se atrevia a ir buscá-lo. Ficámos cá em baixo a aplaudi-lo, enquanto ele
andava de um lado para o outro de braços estendidos. Não me senti assustado;
nunca me ocorreu que o meu irmão pudesse cair. Acho que todos sentiram o
mesmo. Lev foi o único que confrontou os irmãos Gausten dos apartamentos
de Traverveien, apesar de eles serem pelo menos dois anos mais velhos que
ele, e terem estado num reformatório. Lev pegou no carro do meu pai quando
tinha catorze anos, conduziu até Lillestrøm e voltou com um saco de Twist,
que roubara da estação de serviço. O meu pai nunca soube disso. Lev
ofereceu-me os doces.


Trond Grette parecia estar a tentar rir. Tinham-se sentado à mesa. Trond fez
cacau quente. Tirara o pó de cacau de uma lata para a qual ficou a olhar
durante muito tempo. Alguém escrevera CACAU no metal com uma caneta de
feltro. A letra era cuidada, feminina.


– O pior de tudo é que Lev poderia ter sido bem-sucedido – disse Trond. –
O seu problema era cansar-se das coisas com demasiada facilidade. Todos
diziam que em muitos anos fora o maior talento futebolístico do Skeid, mas
quando o seleccionaram para a equipa nacional de juniores nem se deu ao
trabalho de aparecer. Aos quinze anos pediu uma guitarra emprestada, e dois
meses depois apresentava as suas próprias canções na escola. Depois disso,

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