O
24
São Paulo
s lábios de Raskol formaram um sorriso amável. Era assim
impossível dizer se era mesmo um sorriso amável ou não. Harry calculou que
não o fosse.
– Então, tem um amigo no Egipto à procura de um número de telefone –
disse Raskol. Harry foi incapaz de perceber se a entoação era sarcástica ou
objectiva.
– El Tor – disse Harry, a esfregar a palma da mão contra o braço da cadeira.
Sentia um enorme desconforto. Não por estar de novo sentado na sala de
visitas estéril, mas por causa do motivo que o levara ali. Considerara todas as
opções. Pensara em pedir um empréstimo pessoal. Confidenciar com Bjarne
Møller. Vender o Ford Escort à garagem onde o costumava reparar. Mas
aquela era a única hipótese realista, o único caminho lógico a seguir. Era uma
loucura.
– O número de telefone não é apenas um número – disse Harry. – Vai
conduzir-nos ao cliente que me enviou o e-mail . O e-mail que prova que sabe
pormenores acerca da morte de Anna; pormenores que não poderia ter sabido
de outra maneira, a não ser que estivesse presente no momento em que ela
morreu.
– E o seu amigo diz que os proprietários do ISP pediram 60 000 libras
egípcias. E isso é?
– Aproximadamente 120 000 kroner.
– Que acha que eu lhe vou dar?
– Eu não acho nada. Estou-lhe apenas a contar qual é a situação. Eles
querem dinheiro e eu não o tenho.
Raskol passou um dedo ao longo do lábio superior.
– E porque é que isso é um problema meu, Harry? Fizemos um acordo e eu
mantive a minha parte.
– Eu também manterei a minha, mas demorará mais tempo sem dinheiro.
Raskol sacudiu a cabeça, estendeu os braços e murmurou algo naquilo que