primeira categoria, fazia de imediato soar o alarme. O alarme era uma espécie
de subscrição, e aqueles que pagavam um valor mensal eram contactados por
telefone ou o pequeno Paulinho de pés rápidos pregava-lhes uma mensagem
na porta. Muhammed também tinha um motivo pessoal para manter um olho
alerta sobre os autocarros que chegavam. Quando ele e Rosalita tinham
fugido do Rio e do marido dela, não duvidara nem por um momento quanto
àquilo que os esperava se o homem rejeitado descobrisse onde eles se
encontravam. Podiam-se arranjar assassinos por uns duzentos dólares se se
fosse às favelas do Rio ou a São Paulo, mas até um assassino profissional não
cobrava mais de dois ou três mil dólares e despesas para um trabalho de busca
e eliminação, e há dez anos que aquele era um mercado em ascensão. Para
além disso, havia um desconto de quantidade para casais.
Às vezes os indivíduos que Muhammed assinalava como caçadores de
recompensas dirigiam-se directamente à sua ahwa . Por motivos de aparência
pediam um café, e a certa altura, enquanto o bebiam, faziam a inevitável
pergunta: Sabe onde vive o meu amigo fulano de tal? Conhece o homem da
fotografia? Devo-lhe dinheiro. Nesses casos, Muhammed recebia um valor
suplementar se a sua resposta padrão («Vi-o há dois dias a apanhar um
autocarro para Porto Seguro com uma mala grande, senhor.») resultava na
partida do caçador no primeiro autocarro.
Quando o homem alto e louro no fato de linho amarrotado, com a ligadura
branca à volta do pescoço, pousou um saco e um estojo da PlayStation em
cima do balcão, limpou o suor da testa e pediu em inglês um café,
Muhammed conseguiu sentir mais alguns reais a aumentarem o valor fixado.
No entanto, não foi o homem que lhe aguçou os instintos mas sim a mulher
que se encontrava com ele. Bem podia ter escrito POLÍCIA na testa.
Harry perscrutou o bar. Para além dele, de Beate e do árabe atrás do balcão,
havia três pessoas no café. Dois turistas de pé descalço e um turista de uma
variedade um pouco mais abastada, aparentemente a embalar uma ressaca
séria. O pescoço de Harry estava a matá-lo. Tinham-se passado vinte horas
desde que tinham saído de Oslo. Oleg ligara, o recorde de Tetris fora batido e
Harry conseguira comprar uma Namco G-Con 45 na loja de informática do
Aeroporto de Heathrow, antes de voarem para o Recife. Tinham apanhado
uma avioneta para Porto Seguro. No exterior do aeroporto, ele negociara com
o motorista aquilo que possivelmente era um preço exorbitante, e foram
conduzidos até ao ferry que os levaria até ao lado de d’Ajuda onde um
autocarro os transportaria durante os últimos quilómetros.
Tinham-se passado vinte e quatro horas desde que estivera sentado na sala