– Acho que consegui uma boa impressão – disse Beate, a limpar o suor da
testa. – Vamos tirá-lo daqui?
– Não – replicou Harry. – Assim que dermos uma vista de olhos à casa,
limpamos tudo e vamo-nos embora. Vi uma cabine telefónica na rua principal.
Vou fazer uma chamada anónima para a polícia e reportar a morte. Quando
chegarmos a Oslo, podes ligar à polícia brasileira e pedir que enviem o
relatório da autópsia. Não tenho qualquer dúvida de que ele morreu
estrangulado, mas quero saber qual a hora da morte.
– E quanto à porta?
– Não há muito que possamos fazer quanto a isso.
– E o teu pescoço? A ligadura está toda vermelha.
– Esquece isso. Dói-me mais o braço. Aterrei em cima dele quando me
lancei contra a porta.
– Está muito mal?
Harry levantou desajeitadamente o braço e esboçou um esgar.
– Está óptimo, desde que não o mexa.
– Considera-te feliz por não teres o espasmo de Setesdal.
Duas das três pessoas que se encontravam na sala riram-se, mas as suas
gargalhadas terminaram rapidamente.
No caminho de regresso ao hotel, Beate perguntou a Harry se tudo aquilo
fazia algum sentido para ele.
– De um ponto de vista técnico, sim. Para além disso, nunca conseguirei
achar que o suicídio faça sentido.
Deitou o cigarro fora. Este desenhou um arco cintilante na escuridão quase
palpável.
– Mas isso pode ser apenas uma opinião minha.