– Hm – disse Harry, de pé à entrada da Casa da Dor.
– Hm – replicou Beate, a virar-se na cadeira e a olhar para as imagens que
corriam pelo ecrã.
– Presumo que tenha de te agradecer pelo teu estupendo trabalho de equipa.
– O mesmo para ti.
Harry continuou de pé a brincar com o porta-chaves.
– De qualquer maneira – disse –, acho que Ivarsson não vai ficar chateado
durante muito tempo. Afinal, banhou-se numa certa glória já que a ideia de
nos juntar em equipa foi dele.
Beate sorriu vagamente.
– Durante o tempo que durou.
– Não te esqueças daquilo que te disse acerca de tu-sabes-quem.
– Não. – Os olhos dela faiscaram.
Harry impeliu os ombros para a frente.
– É um filho da mãe. Seria uma inconsciência da minha parte não to dizer.
– Foi um prazer conhecer-te, Harry.
Harry deixou que a porta se fechasse atrás dele.
Harry destrancou a porta do apartamento, pousou a mala e o estojo plástico
da PlayStation no meio do vestíbulo e deitou-se na cama. Passadas três horas
sem sonhos, foi acordado pelo toque do telefone. Virou-se e viu no
despertador que eram 19h03. Girou as pernas para fora da cama, arrastou-se
até ao vestíbulo, pegou no auscultador e disse:
– Olá, Øystein – antes que a pessoa do outro lado se pudesse identificar.
– Olá, tu em Oslo, estou no aeroporto do Cairo – respondeu Øystein. –
Tínhamos combinado falar hoje, não tínhamos?
– És a personificação da pontualidade – disse Harry com um bocejo. – E
estás bêbado.
– Não bêbado, não – disse Øystein, num tom arrastado e indignado. – Só
bebi duas Stellas. Ou foram três? Tens de vigiar os teus fluidos no deserto,
sabes. Estou lúcido e sóbrio, Harry.
– É bom sabê-lo. Espero que tenhas mais boas notícias.
– Como os médicos dizem, há boas e más notícias. Digo-te primeiro as