– Espero que ele receba tratamento pós-traumático adequado – disse Beate
em voz baixa, e sacudiu a cabeça. – Já vi pessoas a transformarem-se em
cacos psicológicos depois de serem expostas a assaltos como este.
Harry não respondeu, mas pensou que aquela afirmação devia ser algo que
ela apanhara de colegas mais velhos.
O assaltante virou-se e mostrou seis dedos.
– Interessante – murmurou Beate e, sem olhar para baixo, escreveu
qualquer coisa no bloco à sua frente. Harry seguiu a jovem agente da polícia
pelo canto do olho e viu-a saltar quando o tiro foi disparado. Enquanto o
assaltante no ecrã agarrava no saco de desporto, saltava por cima do balcão e
corria para a porta, o pequeno queixo de Beate ergueu-se e a caneta caiu-lhe
da mão.
– Não colocámos a última parte na Net, nem a passámos para nenhuma das
estações televisivas – disse Harry. – Vê, ele agora encontra-se ao alcance da
câmara exterior do banco.
Viram o assaltante a atravessar a passadeira – com o verde – em
Bogstadveien, antes de subir a Industrigata. Depois desapareceu do
enquadramento.
– E a polícia? – perguntou Beate.
– A esquadra de polícia mais próxima fica em Sørkedalsveien mesmo
depois da portagem, a cerca de oitocentos metros do banco. Apesar disso,
demoraram apenas pouco mais de três minutos desde que o alarme disparou
até chegarem. Por isso, o assaltante teve menos de dois minutos para
conseguir fugir.
Beate olhou para o ecrã com uma expressão pensativa, para as pessoas e
veículos que passavam como se nada tivesse acontecido.
– A fuga foi tão meticulosamente planeada quanto o assalto. É provável que
o veículo de fuga estivesse estacionado do outro lado da esquina, de modo a
não poder ser apanhado pelas câmaras no exterior do banco. Ele teve sorte.
– Talvez – disse Harry. – Por outro lado, não parece um tipo que confie na
sorte, pois não?
Beate encolheu os ombros.
– A maior parte dos indivíduos que assaltam bancos parecem ter sempre
bons planos quando são bem-sucedidos.
– Ok, mas aqui foi um mero acaso a polícia ter-se atrasado. Na sexta-feira