Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

ou de morte.


Harry não sabia muito a respeito de estradas e comunicação. Não sabia que
tinham sido efectuados cálculos, e que esses mostravam que a construção de
dois túneis em Vinterbro e o prolongamento da via rápida iriam reduzir a
congestão em hora de ponta na E6, a sul de Oslo. Não sabia que o argumento
crucial a favor daquele investimento de biliões de kroner não tinham sido os
eleitores que faziam transbordo entre Moss e Drøbak, mas a segurança
rodoviária. As autoridades rodoviárias utilizaram uma fórmula para
calcularem o benefício social baseando-se na avaliação de uma vida humana a
20,4 milhões de kroner o que incluía ambulâncias, o redireccionamento do
trânsito e perdas futuras de rendimentos de impostos. Dirigindo-se para sul
pela E6 no Mercedes de Øystein, pára-choques contra pára-choques, Harry
nem sequer sabia qual o valor que dera à vida de Arne Albu. E decerto que
não sabia o que poderia ganhar por a salvar. Tudo o que sabia era que não se
podia dar ao luxo de perder aquilo que se arriscava a perder. Em circunstância
alguma. Por isso, nem valia a pena pensar muito no assunto.


A mensagem gravada que Vidgis Albu o deixou ouvir pelo telefone durara
cinco segundos, e apenas continha uma informação valiosa. Era suficiente.
Não havia nada nas seis curtas palavras que Arne Albu dissera antes de
desligar: Levei Gregor comigo. Para que saibas.


Não foi o ladrar frenético de Gregor em ruído de fundo.
Foram os gritos frios. As gaivotas.
Já estava escuro quando surgiu o letreiro da saída para Larkollen.




O Jeep Cherokee encontrava-se no exterior do chalé, mas Harry continuou
até à zona destinada às manobras. Não havia ali nenhum BMW azul.
Estacionou um pouco abaixo da casa. Não valia a pena tentar entrar
sorrateiramente; ouvira o ladrar assim que baixara a janela.


Harry estava consciente que devia ter ido armado. Não que existisse algum
motivo para presumir que Arne Albu também estava armado; ele não poderia
saber que alguém estava interessado na sua vida – ou, para ser mais exacto, na
sua morte. Mas eles já não eram os únicos actores daquele drama.


Harry saiu do carro. Não viu nem ouviu qualquer gaivota – talvez apenas
emitissem os seus gritos de dia, pensou.


Gregor estava acorrentado ao corrimão, junto aos degraus da entrada. Os
seus dentes cintilaram ao luar enviando arrepios frios pelo pescoço ainda

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