–N
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O Eco
eve? – gritou Harry para o telemóvel enquanto se apressava
pelo passeio.
– Sim, a sério – disse Rakel, sobre a má ligação de Moscovo. Aquilo foi
seguido por um eco sibilado – ... ério.
– Estou?
– Está aqui um gelo... lo. Dentro de casa e fora... ra.
– E no tribunal?
– Aí também, muito abaixo do ponto de congelação. Quando vivíamos aqui,
a mãe dele até costumava dizer que eu devia levar o Oleg. Agora está sentada
com os outros e lança-me olhares de ódio... io.
– Que tal está a correr o caso?
– Como queres que saiba?
– Bem. Primeiro, estudaste direito. Segundo, falas russo.
– Harry. Tenho em comum com 150 milhões de russos o facto de não
compreender rigorosamente nada a respeito deste sistema legal, ok?... K?
– Ok. Como é que Oleg está a reagir?
Harry repetiu a pergunta sem obter uma resposta e estendeu o telemóvel
para olhar para o visor e ver se tinha perdido a ligação, mas os segundos no
contador continuavam a avançar. Voltou a aproximar o aparelho do ouvido.
– Estou?
– Estou, Harry, eu oiço-te... oooh. Tenho tantas saudades tuas... ohh. O que
é que se passa com o ha ha?... aah.
– Há um eco na linha. Uma série de ooohs, ohhs e aahs.
Harry chegou à porta da rua, tirou a chave e destrancou a entrada para o
átrio.
– Achas que sou demasiado agressiva, Harry?
– Claro que não.