– Parece-me que não. Disse que viu um par de pernas espetadas quando
andava a passear o cão.
– Têm a conversa gravada?
Weber sacudiu a cabeça.
– Ele não ligou pelo número de emergência.
– O que é que achas? – Waaler apontou para o corpo.
– Os médicos ainda vão ter de me enviar um relatório, mas parece-me que
foi enterrado vivo. Não há sinais exteriores de violência, apenas sangue no
nariz e na boca, e os vasos sanguíneos rebentados nos olhos sugerem uma
grande acumulação de sangue na cabeça. A acrescentar a isso, encontrámos
areia no fundo da garganta o que significa que devia estar a respirar quando
foi enterrado.
– Estou a perceber. Mais alguma coisa?
– O cão estava atado ao corrimão exterior do chalé, ali em cima. Um
Rottweiler grande e feio. Numa boa forma surpreendente. A porta não estava
fechada. Também não havia sinais de luta no interior da casa.
– Por outras palavras, entraram na casa, ameaçaram-no com armas, ataram
o cão, cavaram-lhe o buraco e perguntaram-lhe se ele se importava de saltar lá
para dentro.
– Se é que eram vários.
– Um Rottweiler grande, um buraco de um metro e meio de profundidade.
Acho que podemos considerar que eram mais de um, Weber.
Weber não reagiu. Nunca tivera qualquer problema em trabalhar com
Waaler. O homem era um investigador talentoso, um entre poucos; os seus
resultados falavam por si mesmos. Mas isso não significava que Weber
tivesse de gostar dele. Embora antipatia também não fosse a palavra correcta.
Era qualquer outra coisa, algo que o fazia pensar nos passatempos de
Descubra as Diferenças. Não conseguia dizer bem o que era, mas havia algo
nele que o inquietava. Inquietava , era essa a palavra.
Waaler agachou-se ao pé do cadáver. Sabia que Weber não gostava dele.
Por ele, tudo bem. Weber era um agente da polícia mais velho que trabalhava
no Departamento Forense, que não ia chegar a lado nenhum e que não podia,
de qualquer modo concebível, afectar a carreira ou a vida de Waaler. Em
resumo, não precisava de que gostasse dele.
– Quem o identificou?