– E? – perguntou Harry, impaciente.
– Não havia saliva na divisória.
Harry resmungou.
– Apenas uma micro-gota de respiração condensada.
– A sério?
– Sim, a sério.
– Alguém deve ter andado a dizer regularmente as suas preces nocturnas.
Parabéns, Weber.
– Acho que teremos o perfil de ADN dentro de três dias. Depois podemos
começar com as comparações. Segundo os meus cálculos, vamos apanhá-lo
antes do final da semana.
– Espero que tenhas razão.
– Tenho.
– Bem, obrigado por me salvares o apetite.
Harry desligou e vestiu o casaco. Estava prestes a sair quando se lembrou
que não desligara o computador, e voltou ao quarto. Quando ia premir a tecla
SHUTDOWN, viu-o. O coração abrandou e o sangue nas suas veias pareceu
engrossar. Tinha recebido um e-mail . Claro que se poderia ter limitado a
desligar o computador. Poderia tê-lo feito, não havia qualquer urgência em o
ler. Podia ser de qualquer pessoa. Só havia uma pessoa da qual não podia ser.
Harry teria adorado já se encontrar a caminho do Schrøder’s. A descer a
Dovregata, a questionar-se acerca do velho par de sapatos que flutuava entre o
céu e a terra, a gozar as imagens do seu sonho com Rakel. Esse tipo de coisas.
No entanto, agora era demasiado tarde; os seus dedos tinham-no voltado a
dominar. As entranhas da máquina zumbiram. Depois surgiu o e-mail . Era
longo.
Olá, Harry
Mas que cara tão desanimada. Talvez pensasses que não voltarias a
saber nada de mim. Bem, a vida é cheia de surpresas, Harry. Uma coisa
que Arne Albu já deve ter descoberto, no momento em que estiveres a
ler isto. Brutal, não é? Tirar a família a um homem, em especial quando
sabes que é a coisa mais importante da vida. Mas ele só se pode culpar
a si mesmo. A infidelidade nunca pode ser demasiado castigada, não
concordas, Harry? De qualquer maneira, a minha pequena vendetta
pára por aqui.