Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

empresa de segurança ou de uma central. Nenhuma fechadura de segurança à
prova de berbequim. Nenhuma fechadura de cilindros gémeos com pinos
duplos à prova de roubo. Apenas uma antiga fechadura de canhão Yale.
Canja.


Harry baixou a manga do blusão e apanhou o pé-de-cabra quando este caiu.
Hesitou antes de introduzir a ponta no interior da porta, sob a fechadura. Era
quase demasiado fácil. No entanto, não tinha tempo para pensar nem
nenhuma opção. Não arrombou a porta, em vez disso forçou-a em direcção às
dobradiças de modo a conseguir enfiar o cartão de crédito de Øystein no
interior do trinco, e fazê-lo deslizar do seu encaixe na estrutura da porta.
Aplicou uma certa pressão para abrir uma frincha ínfima, e colocou a sola do
pé contra o fundo. A porta chiou nas dobradiças ao mesmo tempo que ele
dava uma cotovelada ao pé-de-cabra e puxava o cartão. Deslizou para o
interior e fechou a porta atrás de si. Toda a operação demorara oito segundos.


O zumbido do frigorífico e as gargalhadas enlatadas da televisão de um
vizinho. Harry tentou respirar profunda e regularmente enquanto escutava na
escuridão total. Ouvia o trânsito no exterior e sentia uma corrente de ar fria, o
que lhe indicou que as janelas do apartamento eram velhas. Mas o mais
importante, nenhum ruído que sugerisse que se encontrava alguém em casa.


Encontrou o interruptor. O vestíbulo precisava definitivamente de uma
remodelação, a sala de estar de ser pintada. A cozinha estava condenada. O
interior do apartamento explicava as medidas de segurança fracas. Ou, para
ser mais exacto, a falta de interior. Alf Gunnerud não tinha nada, nem sequer
uma aparelhagem para que Harry lhe pudesse pedir para baixar o som. A
única prova que alguém vivia ali eram duas cadeiras de campismo, uma mesa
de centro verde, roupa espalhada por todo o lado e uma cama com um
edredão, mas sem lençóis.


Harry calçou as luvas de lavar loiça que Øystein também lhe trouxera, e
levou uma das cadeiras até ao vestíbulo. Colocou-a em frente da fileira de
armários de parede que chegavam até ao tecto de três metros de altura,
esvaziou a cabeça de quaisquer ideias pré-concebidas e pousou cauteloso um
pé no braço da cadeira. Nesse momento, o telefone tocou. Harry deu um
passo para o lado, a cadeira de campismo fechou-se e ele caiu
estrondosamente no chão.


Tom Waaler tinha um mau pressentimento. Faltava à situação a estrutura
clara pela qual ele lutava sempre. Como a sua carreira e perspectivas futuras
não se encontravam nas suas mãos, mas nas mãos daqueles com quem ele se
aliava, o factor humano era sempre um risco que tinha de tomar em

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