Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

consideração. O mau pressentimento vinha do facto de não saber se podia
confiar em Beate Lønn, em Rune Ivarsson ou – aquilo era crucial – no homem
que era a sua mais importante fonte de rendimento: o Valete.


Quando chegara aos ouvidos de Tom que o Conselho Municipal começara a
fazer pressão sobre o chefe da polícia para apanhar o Executor depois do
assalto ao banco em Grønlandsleiret, ele mandara o Valete esconder-se.
Tinham concordado que ele se esconderia num lugar que conhecia do
passado. Pattaya tinha o maior aglomerado de criminosos ocidentais
procurados do hemisfério oriental, e situava-se apenas a duas horas de carro
de Banguecoque. Como turista branco, o Valete desapareceria entre as
multidões. O Valete chamava a Pattaya «a Sodoma da Ásia», por isso Waaler
não compreendeu quando ele voltara a aparecer subitamente em Oslo,
dizendo que já não conseguia aguentar aquilo durante mais tempo.


Waaler parou no semáforo da avenida Uelands e ligou o pisca para a
esquerda. Um mau pressentimento. O Valete executara o último assalto ao
banco sem o informar primeiro, e essa era uma séria violação às regras. Teria
de fazer alguma coisa quanto a isso.


Acabara de tentar ligar ao Valete, mas ninguém atendera. Isso podia
significar muita coisa. Podia, por exemplo, significar que ele estava no chalé
em Tryvann a trabalhar nos pormenores do assalto à carrinha de valores, a
respeito da qual tinham falado. Ou a passar em revista o seu equipamento –
roupa, armas, rádio da polícia, planos. Mas também podia significar que
tivera uma recaída e que se encontrava num canto a abanar a cabeça, com
uma seringa espetada no antebraço.


Waaler conduziu devagar ao longo da pequena rua escura e suja onde o
Valete vivia. Um táxi estava estacionado do lado oposto da rua. Levantou os
olhos para as janelas do apartamento. Estranho, as luzes estavam acesas. Se o
Valete se tivesse voltado a drogar, abrir-se-iam as portas do inferno. Seria
fácil entrar no apartamento. A porta tinha uma fechadura obsoleta. Olhou para
o relógio. A visita a Beate excitara-o, e sabia que ainda não conseguiria
dormir. Teria de dar umas voltas, fazer algumas chamadas e ver o que ia
acontecer.


Pôs a música de Prince no máximo, acelerou e subiu a Ullevålsveien.
Harry sentou-se na cadeira de campismo com a cabeça entre as mãos, uma
anca a latejar e nem uma prova que Alf Gunnerud fosse o homem que lhe
interessava. Demorara apenas dez minutos a passar em revista os poucos
artigos que se encontravam no apartamento, tão poucos que começou a

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