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Bonnie Tyler
oi um dia desanimador, curto e de um modo geral inútil. Nuvens cor de
chumbo pesadas de chuva varreram a cidade sem soltarem uma gota, e rajadas
de vento ocasionais empurravam os jornais no escaparate no exterior do
quiosque do Elmer’s Fruit & Tobacco. Os cabeçalhos dos jornais insinuavam
que as pessoas tinham começado a ficar fartas da chamada guerra ao terror,
que possuía agora a conotação – de certo modo odiosa – de um slogan
eleitoral e tinham, além disso, perdido um certo ímpeto já que ninguém sabia
onde se encontrava o principal ofensor. Alguns até pensavam que ele estava
morto. Assim, os jornais tinham começado a dar espaço nas suas colunas a
estrelas de reality shows , celebridades estrangeiras de segunda categoria que
tinham dito algo de simpático a respeito da Noruega, e aos planos de férias da
família real. O único drama que quebrava a monotonia fora um tiroteio
ocorrido junto ao terminal de contentores onde um assassino e traficante de
droga procurado apontara uma arma a um agente da polícia, e acabara por ser
morto antes de disparar um tiro. O chefe da Brigada de Narcóticos reportara
uma considerável apreensão de heroína no apartamento do homem morto,
enquanto o chefe da Brigada de Homicídios comentava que o homicídio
alegadamente cometido pelo homem de trinta e um anos ainda se encontrava
sob investigação. Contudo, o último jornal que saíra naquele dia acrescentava
que as provas contra o homem, que não era de origem estrangeira, eram
conclusivas. E, estranhamente, o agente envolvido era o mesmo que abatera o
neonazi Sverre Olsen na sua residência num caso semelhante há mais de um
ano. O agente estava suspenso até que forças policiais independentes tivessem
terminado a sua investigação, dizia o jornal, e citava o superintendente-chefe
que dizia que aquele era um procedimento de rotina em tais situações, e nada
tinha a ver com o caso Sverre Olsen.
Um incêndio num chalé de Tryvann também encontrara espaço num
minúsculo parágrafo porque fora encontrado um bidão de gasolina vazio junto
ao cenário da casa totalmente destruída, e assim a polícia não podia pôr de
lado a hipótese de fogo posto. Aquilo que não aparecia no jornal eram as
tentativas efectuadas pelos jornalistas para contactar Birger Gunnerud, de
modo a poderem perguntar-lhe como se sentia por ter perdido o filho e o chalé
na mesma noite.