– Eram três. Stefan era o mais velho, por isso foi o primeiro a entrar e o
último a sair. Enquanto os outros dois saíam a correr com o dinheiro para ir
buscar o carro de fuga, Stefan ficou no interior do banco com a pistola
levantada para que não fizessem soar o alarme. Eram amadores, nem sequer
sabiam que o banco tinha um alarme silencioso. Quando foram buscar Stefan,
ele estava estendido em cima do capô de um carro-patrulha. Um agente
algemara-o. Era Raskol quem conduzia. Tinha apenas dezassete anos e nem
sequer tinha a carta. Baixou a janela. Com três mil kroner no assento traseiro,
conduziu lentamente até junto do carro da polícia onde o irmão se debatia em
cima do capô. Depois Raskol e o agente fizeram contacto visual. Meu Deus, o
ar estava tão tenso como quando ele e Maria se tinham conhecido. O olhar
que trocaram pareceu durar uma eternidade. Eu estava com medo de que
Raskol fosse gritar, mas ele não proferiu palavra. Limitou-se a continuar. Foi
a primeira vez que se viram.
– Raskol e Jørgen Lønn?
Simon assentiu. Saíram da rotunda e continuaram em direcção à curva de
Ryen. Simon ligou o pisca e depois travou junto de uma estação de serviço.
Estacionaram em frente de um edifício de doze pisos. O logótipo do DnB
faiscava num letreiro de néon azul por cima da entrada.
– Stefan apanhou uma pena de quatro anos, porque disparara a sua arma
para o ar – disse Simon. – Mas depois do julgamento, aconteceu uma coisa
estranha. Raskol foi visitar Stefan a Bosten, e no dia seguinte um dos guardas
disse que lhe parecia que o prisioneiro mudara de aspecto. O seu superior
disse-lhe que aquilo era vulgar naqueles que eram presos pela primeira vez.
Contou-lhe das mulheres que não reconheciam os maridos nas suas primeiras
visitas. O guarda ficou tranquilizado, mas alguns dias depois uma mulher
ligou para a prisão. Disse que tinham o prisioneiro errado. O irmão mais novo
de Stefan Baxhet tomara o seu lugar e tinham de soltar o prisioneiro.
– Isso é mesmo verdade? – perguntou Harry, a tirar o isqueiro e a aproximá-
lo da ponta do cigarro.
– Sim, é – disse Simon. – É bastante normal entre ciganos da Europa
Meridional que o irmão mais novo, ou o filho, cumpram a sentença do
indivíduo condenado, se esse tiver uma família para alimentar. Como Stefan
tinha. Para nós, é uma questão de honra, percebes?
– Mas as autoridades descobrem rapidamente o engano, não descobrem?
– Ah! – Simon ergueu os braços. – Para vocês, um cigano é um cigano. Se
ele estiver na prisão por algo que não fez, decerto que é culpado de qualquer