–V
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Jalalabad
ou matar-te dentro de pouco tempo – disse Harry, a apertar
com mais força o aço frio da arma. – Só quero que o saibas primeiro. Deixar
que penses nisso. De boca aberta!
Estava a falar para bonecos de cera. Imóveis, sem alma, desumanizados.
Transpirava agora no interior da máscara e o sangue latejava-lhe nas
têmporas, cada pancada a deixar uma dor surda. Não queria ver pessoas à sua
volta, não queria defrontar-se com as suas expressões acusadoras.
– Enfia o dinheiro num saco – disse à pessoa sem rosto que se encontrava à
sua frente. – E levanta o saco acima da cabeça.
A pessoa sem rosto começou a rir, e Harry virou a arma para a atingir na
cabeça com a coronha, mas falhou. Agora os outros que se encontravam no
banco começaram a rir, e Harry olhou-os através dos cortes irregulares na
máscara. Subitamente, pareciam-lhe familiares. A rapariga junto ao segundo
balcão assemelhava-se a Birgitta. E ele poderia ter jurado que o homem de cor
junto à bilheteira era Andrew. E a mulher de cabelo branco com o carrinho de
bebé...
– Mãe – sussurrou.
– Queres o dinheiro ou não? – disse a pessoa sem rosto. – Vai demorar vinte
e cinco segundos.
- Eu é que decido quanto tempo demora! – rugiu Harry, a enfiar o cano na
boca negra e aberta. – Foste tu. Sempre soube que tinhas sido tu. Vais morrer
dentro de seis segundos. Teme pela tua vida!
Um dente pendia de um fio preso à gengiva e sangue corria da boca aberta
da pessoa sem rosto, mas ele falou como se não se apercebesse que o estava a
fazer: Eu não posso defender o teu tempo e recursos com considerações
pessoais e emoções. Algures soou o toque frenético de um telefone.
– Teme pela tua vida! Teme pela tua vida, como ela temeu!
– Não deixes que isso se transforme numa ideia fixa, Harry. – Harry sentiu
a boca a mastigar o cano da arma.