– Sim, quem é que pensavas que fosse?
Harry apertou os olhos com força.
– Trabalho. Houve outro assalto. – As palavras sabiam-lhe a bílis e a
pimentos. A dor surda atrás dos olhos voltara.
– Tentei apanhar-te no telemóvel – disse Rakel.
– Perdi-o.
– Perdeste?
– Deixei-o nalgum lado, ou roubaram-me. Não sei, Rakel.
– Passa-se alguma coisa, Harry?
– Alguma coisa?
– Pareces tão... perturbado.
– Eu...
– Hm?
Harry respirou fundo.
– Que tal está a correr o caso?
Harry estava a ouvir, mas sentia-se incapaz de organizar as palavras em
frases que fizessem sentido. Apanhou «estatuto financeiro», «o melhor para a
criança» e «arbitragem», e percebeu que não havia muitas novidades. A
reunião seguinte com os advogados fora adiada para sexta-feira; Oleg estava
óptimo, mas farto de viver num hotel.
– Diz-lhe que estou ansioso que vocês voltem – disse ele.
Depois de terminada a chamada, Harry perguntou-se se deveria voltar a
ligar. Mas para quê? Para lhe contar que fora convidado para jantar por uma
antiga paixoneta e que não fazia a mínima ideia do que é que acontecera?
Harry pousou a mão no telefone, mas depois o alarme de fumo na cozinha
disparou. E quando tirou a frigideira do fogão e abriu a janela, o telefone
voltou a tocar. Mais tarde Harry pensou que muita coisa teria sido diferente,
se Bjarne Møller não tivesse decidido ligar-lhe naquela noite.
– Sei que acabaste de sair de serviço – disse Møller –, mas estamos com
falta de pessoal e encontraram uma mulher morta no seu apartamento. Parece
que se suicidou. Podes ir dar uma espreitadela?
– Claro, chefe. Hoje devo-te uma. Já agora, Ivarsson apresentou a