Waaler não era mesmo racista. Sentia-se tão satisfeito a espancar neonazis
como a espancar negros.
Para além de tudo aquilo que se sabia a seu respeito, havia alguns assuntos
de que ninguém tinha conhecimento, mas alguns pressentiam de que é que se
tratava. Passara-se agora mais de um ano desde que Sverre Olsen – a única
pessoa que lhes podia ter contado o motivo por que Ellen Gjelten fora
assassinada – fora encontrado deitado na sua cama com uma arma quente na
mão, e um buraco da Smith & Wesson de Waaler entre os olhos.
– Tem cuidado, Waaler.
– Desculpa?
Harry estendeu a mão e baixou o som dos gemidos pseudo-eróticos.
– A noite está gelada.
O motor ronronou como uma máquina de costura, mas o som era
enganador. À medida que o carro acelerava, Harry verificou por si mesmo
como as costas do assento eram duras. Aceleraram colina acima até Stenspark
ao longo da avenida Suhms.
– Para onde vamos? – perguntou Harry.
– Para aqui – disse Waaler, a virar repentinamente para a esquerda em
frente de um carro que seguia em sentido contrário. A janela ainda estava
aberta e Harry ouviu o som de folhas molhadas a agarrarem-se aos pneus.
– Bem-vindo de volta à Brigada Criminal – disse Harry. – Não te quiseram
no POT?
– Em restruturação – disse Waaler. – Além disso, o super-chefe e Møller
queriam-me de volta. Se bem te lembras, obtive resultados bastante úteis na
Brigada de Homicídios.
– Como me poderia esquecer!
– Bem, ouvem-se dizer tantas coisas a respeito dos efeitos a longo prazo da
bebida.
Harry acabara de colocar o braço no tabliê antes de a travagem repentina o
lançar contra o pára-brisas. O porta-luvas abriu-se e algo pesado atingiu Harry
no joelho ao cair no chão.
– Que merda é esta? – resmungou.
– Uma Jericho 941, da polícia israelita – disse Waaler, a desligar o motor. –
Não está carregada. Deixa-a onde está. Chegámos.