Público - 14.10.2019

(Barry) #1

18 • Público • Segunda-feira, 14 de Outubro de 2019


SOCIEDADE


Aprender a branquear um milhão de
euros é um dos desaÆos lançados aos
notários que participam hoje, em
Lisboa, num seminário destinado ao
combate a este fenómeno. A ideia é
que os proÆssionais do sector Æquem
habilitados a detectar indícios de
crime nos negócios que certiÆcam.
A tarefa pode não ser fácil, avisa o
bastonário dos Notários, Jorge Batis-
ta da Silva, que dá um exemplo: des-
de 2017 que a lei proíbe que os paga-
mentos das transacções superiores
a três mil euros sejam feitos em
dinheiro, mas a lei abre uma excep-
ção para os negócios celebrados
antes da entrada em vigor desta obri-
gação mas formalizados mais tarde.
“Os pagamentos em dinheiro — de
transacções imobiliárias, por exem-
plo — continuam a decorrer com
grande regularidade”, critica o
representante dos notários, expli-
cando que esta classe nada pode
fazer contra isso. “Quem o faz devia
ser Æscalizado pela Autoridade Tri-
butária”, preconiza, “porque não é
muito normal que situações destas
ocorram”.
Por outro lado, a legislação que
tem vindo a ser produzida nos últi-
mos anos para combater a lavagem
de dinheiro “é demasiado burocrá-
tica”, impondo a esta e outras pro-
Æssões, como é o caso dos advoga-
dos, “a obrigação de recolha de
informação que já consta das bases
de dados públicas”, assinala tam-
bém Jorge Batista da Silva. É o caso
das proÆssões dos intervenientes
nas transacções a certiÆcar, por
exemplo.
No seminário, em que serão apre-
sentados casos práticos, deverá estar
presente cerca de uma centena de
proÆssionais do sector, entre portu-
gueses, espanhóis e franceses. O
encontro conta ainda com procura-
dores e inspectores tributários, ou
não fosse a fraude Æscal um dos cri-
mes que habitualmente justiÆcam a
necessidade de branqueamento.

Notários


aprendem


a branquear


um milhão


Justiça
Ana Henriques

Lavagem de dinheiro
é o tema de um seminário
que reúne profissionais
do sector em Lisboa

[email protected]

Breves


Saúde

Crime

Educação

Urgência pediátrica


do Garcia de Orta


fechou várias horas


Português


espancado na rua


no Reino Unido


Plano Nacional vai


estudar hábitos de


leitura dos alunos


A urgência pediátrica do
Hospital Garcia de Orta, em
Almada, reabriu ontem de
manhã, depois de ter
encerrado às 20h de sábado
por falta de médicos à noite.
Apenas três utentes
procuraram o serviço neste
período, tendo sido
encaminhados para outras
unidades. Há apenas quatro
médicos para assegurar esta
urgência à noite, diz o
Sindicato dos Médicos do Sul.

Um português de origem
madeirense corre risco de vida
depois de ter sido espancado
no sábado à tarde na cidade
de Eastbourne, no Sul do
Reino Unido, por um grupo de
pessoas. Sofreu lesões graves
no crânio. O ataque ocorreu
durante o dia, quando
caminhava pela rua com a
namorada, e está a ser
investigado pelas autoridades
britânicas, que já identificaram
alguns suspeitos.

O Plano Nacional de Leitura
(PNL) vai retomar os estudos
sobre os hábitos de leitura dos
alunos. Os dados poderão ser
conhecidos dentro de dois
anos, anunciou o secretário de
Estado da Educação, João
Costa. O PNL “está a fazer uma
candidatura”, adiantou,
estimando que nessa altura se
comece a ter informação
sobre literacia nas escolas.

Antigo dirigente do Benfica


acusado de burla confessa


parte dos crimes em tribunal


Antigo director de futsal do


clube é acusado de se ter


apropriado de 5,8 milhões.


Em tribunal, disse que quer


ressarcir os lesados


Justiça


Sónia Trigueirão


[email protected]

Luís Moreira está detido no estabelecimento prisional da PJ

Um ex-dirigente do Benfica acusado
de se apropriar de 5,8 milhões de
euros e que andou fugido à Justiça
durante nove anos confessou parte
dos crimes em tribunal, onde está a
ser julgado por dez crimes de falsifi-
cação de documentos e 11 de burla
qualificada.
Luís Jorge Lopes Moreira, 57 anos,
ex-responsável da equipa de futsal do
Benfica — abandonou o clube em
2007 —, começou a ser julgado a 3 de
Outubro e logo na primeira sessão do
julgamento quis prestar declarações,
sublinhando que tencionava assumir
as suas responsabilidades pelos cri-
mes e tentar ressarcir os lesados, uma
vez que terá bens, nomeadamente
um terreno, que valerá actualmente
três milhões de euros.
Luís Moreira foi detido pela PSP a
27 de Junho deste ano em Marinhais,
no concelho de Salvaterra de Magos
(Santarém), depois de ter andado
quase nove anos fugido à Justiça.
Segundo a acusação, ter-se-á apro-
priado de mais de 5,8 milhões de
euros ao ficar com o dinheiro de sinais
de contratos de promessa de compra
e venda de terrenos que não eram
seus, mas para os quais apresentava
procurações falsas dos verdadeiros
donos. Ao todo são 13 os lesados nes-
te processo, entre empresas e pessoas
a título individual. São construtores
civis que na altura perderam não só
os terrenos, como o dinheiro que
deram como sinal para a compra dos
mesmos.
Perante os juízes, Luís Moreira dis-
se que foi “instrumentalizado” e que
agiu sob coacção de outra pessoa que
teria na sua posse informações com-
prometedoras do seu bom nome. O
arguido contou que o mentor desta
mega burla, ao contrário do que refe-
re a acusação do Ministério Público,
foi Carlos Lage, um empresário que
lhe foi apresentado em 2006 pelo seu
genro à época.
Ambos andaram em fuga e só mais
tarde foram localizados no Brasil,
tendo sido detidos em 2010 no âmbi-


to de mandados de detenção interna-
cionais. Carlos Lage, que, segundo a
acusação, seria o testa-de-ferro de
Luís Moreira, acabou por ser extradi-
tado do Brasil e ficou em prisão pre-
ventiva no Estabelecimento Prisional
de Lisboa. Um mês depois de ter sido
detido, foi assassinado por outro
recluso, que estava a cumprir uma
pena de mais de 20 anos pelo homi-
cídio de um médico cubano.

Morte suspeita
A morte de Carlos Lage, de extrema
violência, foi investigada pela Polícia
Judiciária, que tentou apurar se o seu
homicídio estaria de alguma forma
ligado ao caso pelo qual estava deti-
do. Foram ouvidas varias testemu-
nhas, entre presos e guardas prisio-
nais. Todos foram unânimes em
dizer que Carlos Lage não tinha pro-
blemas com ninguém na cadeia e
que o recluso que o matou era conhe-
cido por ser violento e ter surtos
psicóticos.
Já Luís Moreira, que fugiu da prisão
no Brasil em Outubro de 2010, evitan-
do assim a extradição para Portugal,
andou desaparecido quase nove anos
com mandados de detenção penden-
tes porque as autoridades não sabiam
do seu paradeiro.
Foi apanhado pela PSP em Portugal
no passado dia 27 de Junho, no âmbi-
to de uma investigação a outro caso
de crime de falsificação de documen-
tos e burla qualificada que envolvia a
usurpação de várias identidades e do
qual era o principal suspeito.
De acordo com o auto elaborado
pela PSP no dia da detenção, foi pos-
sível identificar o paradeiro de Luís

PAULO PIMENTA

Moreira, que “se identificava com
vários nomes”. Chegou, de acordo
com o documento, a usar a identida-
de de um cidadão brasileiro e a cons-
tituir em nome deste uma empresa,
com sede em Azeitão. E também terá
usado a identidade de um português
que faleceu em 2015 e de outra pessoa
da qual “não só assumiu a sua identi-
dade, como ainda a sua profissão de
engenheiro civil”. Além disso, tinha
na sua posse o cartão de cidadão e a
carta de condução de uma outra pes-
soa, que a polícia suspeita ter “furta-
do ao legítimo titular”, em Dezembro
de 2018, e que ultimamente vinha a
utilizar, identificando-se com esse
nome não só em Portugal, mas em
França.
Desde esse dia que Luís Moreira
está detido no estabelecimento pri-
sional da Polícia Judiciária (PJ). E já
tentou dois habeas corpus junto do
Supremo Tribunal de Justiça (STJ)
para ser libertado, mas o tribunal
indeferiu ambos os pedidos.
No âmbito deste processo, que
resultou da anexação de várias quei-
xas, foram constituídos e acusados
outros dois arguidos, António Baldo
e António Aragão, que acabariam
por ser julgados em separado. Antó-
nio Baldo, que era na altura dos fac-
tos chefe de gabinete do presidente
da Câmara de Loures, foi absolvido
porque não ficou provado que sabia
que estava envolvido num esquema
de burla. Já António Aragão, que
seria um intermediário no ramo do
imobiliário, foi condenado a três
anos de prisão com pena suspensa.
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