O Natal do bom califa
Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação.
Davi, Salmos, 85, 7.
A certeza, na vida — dizia um velho beduíno, meio filósofo, que conheci em
Damasco —, é mais rara que a flor do anem^1 no deserto Rub-al-Khali.
Sim, a certeza para as múltiplas situações e problemas da vida é
realmente das coisas raras. Será, certamente, mais preciosa do que a flor
rubra do anem na aridez escaldante das areias sem fim. Mas, por Alá, que
importa? Há ocasiões em que o nosso espírito se sente sob o escudo
inabalável da certeza.
Eis um caso bastante expressivo que vem corroborar o que acabo de
afirmar.
— Tenho certeza, meu amigo, certeza absoluta de que você já ouviu
muitas vezes falar do glorioso Al-Mutasim, califa de Bagdá, xeque do Islã.^2 Já
ouviu, não é verdade? Vamos. Faça um pequeno esforço de memória. Não
se lembra? Al-Mutasim, na primeira metade do século IX, ocupou o trono
de Bagdá e foi, no seu tempo, um dos monarcas mais ricos e prestigiosos.