Nesse momento, senti que me puxavam, com força, pelo braço. Era um
dos beduínos de Maalif.
— Venha depressa! — segredou-me nervoso, aflito. — Venha depressa!
O xeque^24 Abd el-Rahmã, seu patrão arreliento, já se encontra, lá fora, à sua
espera. Está furioso! Por Alá! Depressa! O xeque quer falar-lhe agora
mesmo.
A situação era grave. Algo de anormal havia ocorrido com os nossos
rebanhos. Roubo? Baixa de preço? Deixei (debaixo de novos empurrões e
novas pragas) o tribunal e, impossibilitado de ouvir a sentença do cádi, corri
ao encontro de meu chefe, o rancoroso Abd el-Rahmã. Retornamos, na
mesma hora, para o oásis de Maalif.
Na tarde desse mesmo dia, segui, por ordem do xeque, para Saida, e de
Saida fui, com mercadores de fumo, para Oran. Viajei mais tarde para a
Europa. Passei cinco meses no Havre vigiando os embarques e
desembarques de mercadorias. De quando em vez, a curiosidade remordia-
me o coração:
— Como teria o justo cádi, naquele dia, na Tenda da Justiça, resolvido o
caso da jovem que dois maridos disputavam? Teria decidido a favor do
apaixonado Hassã, o primeiro marido? Teria dado ganho de causa ao velho e
generoso Sidi Chahin?
Dois anos depois, vi-me forçado a percorrer vários centros comerciais de
Marrocos. Essa viagem delongou-se por cinco semanas. Na volta, resolvi
visitar Tlemcen, a cidade mais curiosa da Argélia.
Embora pareça incrível, sob o céu de Tlemcen fui conhecer
inesperadamente o surpreendente desfecho da singular aventura dos dois
maridos de Najat.
Tudo se passou assim, Maktub! (Estava escrito!)
Uma tarde, sentindo-me bem-disposto, julguei que seria acertado levar
algumas peças de roupa a uma tinturaria que ficava no fim da rua Kaldoum.
Ao entrar na tinturaria, dei de cara com o tal guitarrista de Argel,
chamado Saliba ou Taliba (não me lembro bem), admirador fervoroso do
justo cádi Rafik ben-Najm.