— Sou princesa em meu país. Quero um marido que seja digno da
minha terra e da minha gente!
A esperta e habilidosa cerzideira,^25 generosamente gratificada por mim,
entendeu-se com teu pai e articulou, com o maior cuidado e discrição, o
nosso encontro na presença dos dois emissários do rei do Sião.
E apontando, com as sete alwan^26 da malícia, para a cesta de uvas
esquecida junto à parede, a deliciosa morena ciciou, entrecerrando as
pálpebras.
— A remessa daquela cesta (ideia sugerida por teu pai) não passava de
um pretexto para esta maravilhosa entrevista de tanto relevo para a minha
vida.
E remexendo-se, nervosa, interpelou-me com ansiedade:
— Concordas em casar comigo? Concordas, também, em ir comigo para
o reino do Sião? Escuta, querido, escuta: sou infiel, não nego, sou infiel!^27
Andei pelo mundo, fui pedida em casamento mais de setenta vezes, casei-
me com um sírio, mas continuo mais pura do que o mármore de Phrabat!^28
Jamais poderei exprimir a paixão alucinante, abrasadora, despertada em
mim pela formosa Nurenahar, a siamesa infiel. Onde encontrar palavras
para traduzir o intraduzível? Como inventar qualificativos que possam
caracterizar os sentimentos arrebatados de um adolescente? As minhas
palavras tornaram-se vertiginosas. Respondi:
— Caso-me contigo, ó sedutora infiel de Bangcoc! E contigo irei
devotadamente para a Pérsia, para a China, para todos os reinos do mundo!
Viveremos felizes aqui, junto ao Nilo, entre escravos, ou nas margens do
Menam,^29 no país dos homens livres. Terás a tua religião, e eu a minha!^30
— Kopliai! Kopliai!^31 — balbuciou num discreto sorriso, passando de leve
a mão pelo meu rosto, numa carícia lenta. Senti, em seus olhos, o véu de
profunda melancolia. Permaneceu rápido instante em silêncio. E, a seguir,
em tom suave, desabafou: — Espera, querido! Sou muito ciumenta! Tenho
no coração os três venenos do ciúme.^32 Aceito-te para marido, mas imponho
uma condição: vais jurar pelo Alcorão, o livro da tua Lei, que eu, Nurenahar,
filha de Gibran, serei tua esposa única^33 por toda a vida! Vais jurar, querido?