Vimos pedir-vos inestimável favor. Criamos este belíssimo gato com todas as
ternuras e cuidados, como se fosse verdadeiro filho. Tudo fizemos, nesta
vida, por ele e para ele. Eis o nosso ideal: assegurar ao nosso querido Lapa-
Uck um futuro brilhante, uma vida gloriosa e feliz. E o favor que desejamos
é o seguinte: queremos ver este belo gato, pelo poder da vossa incomparável
ciência, transformado num príncipe!
No firme propósito de reforçar o pedido de seu marido, a diligente Mai-
lá-id acrescentou, arrebatada, dirigindo-se com certo desembaraço ao sábio
ocultista:
— Eis, ó mágico budista, o nosso grande sonho de ventura: ver o nosso
gato tão querido transformado num príncipe! Queremos que seja esse o seu
kismet!
Mostrou-se o mágico contrariado com a súplica que acabava de ouvir. E,
sem mais rodeios, admoestou com severidade o apicultor:
— Longe vai a insensatez, o despautério da petição que acabais de
formular. É inconcebível que possa alguém sonhar em converter um gato
num príncipe. A razão é de tal peso que deve ser dita e redita vinte vezes.
Ouvi, meus amigos; ouvi, com atenção: o gato, por sua natureza, é um
animal ingrato, egoísta e mau. Sobretudo vaidoso e mau. Não toma amizade
ao dono que o alimenta e acarinha, mas sim à casa em que vive, ao prato em
que come ou à sombra em que dormita. A sua insensibilidade pelos
sentimentos altruístas é completa, inabalável. Não se apaixona, não vibra
pelo afeto, não se entusiasma. É frio, indolente, calculista, interesseiro. Sem
simpatia pelos que o amam, tem coração fechado para os que se aproximam
dele. É orgulhoso e apático.
Neste ponto o nigromante fez ligeira pausa, passou a mão pela barba,
pontiaguda e meio grisalha, ajeitou a barra de seu turbante e logo retomou o
fio de sua explicação. Levemente sarcástica era a inflexão de sua voz:
— Acresce ainda, em relação ao gato, uma particularidade de suma
importância no mundo dos mistérios da magia. Prescreve o Livro da magia ,
ditado pelo imortal Salomão, que qualquer mágica referente a um gato (o
único animal que tem sete fôlegos) deve ser precedida de sete coincidências
relacionadas com o número sete. Ora, não é possível que ocorram, em dado