Certo desassossego alfinetava-me o coração. Como encontrar forças para
sopear a ansiedade que latejava em meu pensamento?
Os dois oficiais, de acordo com as normas palacianas, fizeram profunda
reverência diante do monarca e retiraram-se com exagerada solenidade. Os
seus passos cadenciados ecoaram ao longo do corredor.
O olhar inquiridor e opressivo do rei pousou em mim. Trejeitou um
breve sorriso de elevada simpatia e assim falou:
— Penso, meu amigo, em tua situação privilegiada, neste país, como
esposo de uma princesa. Sim, Nurenahar, a tua esposa, é princesa do Sião e
minha prima pela linha materna. E tenho razões que me obrigam a
conservar-te sob a minha simpatia e proteção. Não ignoro, entretanto, que
os costumes, em nossa terra, divergem profundamente daqueles que ditam
os princípios sociais e políticos do povo egípcio. Não pretendo, porém,
repudiar ou ferir as tradições siamesas de tanta beleza e simplicidade,
tradições que são, afinal, o orgulho de nossa terra e de nossa gente.
Proferidas tais palavras (que revelavam a sua índole comunicativa), o rei
bateu palmas. Surgiram, no mesmo instante, saídas de uma porta lateral
(oculta por largo tapete), cinco sedutoras raparigas siamesas, com seus trajes
de gala. Saudaram-nos com cativante humildade, inclinando os bustos, e
sorriram com indizível encantamento para mim. Trazia, cada uma delas, o
seio direito descoberto,^6 e sobre a cabeça chapéu longo e afunilado. Uma
delas, ao rápido exame, parecia destacar-se das demais por sua exuberante
beleza. Tinha os olhos vivos, amendoados, sobre as arcadas das sobrancelhas
em noun ;^7 as suas faces eram rosadas e seus lábios exprimiam bondade,
pureza e simplicidade. As outras quatro eram igualmente pródigas em
encanto e sedução. Puseram-se a caminhar de um lado para outro, em
passos suaves, ritmados, e seus gestos repetiam-se na harmonia dos
movimentos transbordantes de graciosidade. Fitei-as (confesso) com
estranho sobressalto. Parecia viver, naquela sala quadrada, sob o olhar
tranquilo do glorioso Mongkut, um autêntico episódio das mil e uma noites...
— Aqui estão — esclareceu, com sinuosa malícia, o rei, inclinando a
cabeça — cinco das mais formosas donzelas de Bangcoc. Receberam todas
esmerada educação. Sabem cantar, dançar, bordar e preparar o arroz mais
fino do Sião. São inteligentes, meigas, obedientes e sem mácula. Viveram,