acanhado, fizera-se talebe, isto é, professor. O seu feitio calmo e paciente
tornara-o muito estimado. Ensinava cálculos, música, astrologia e noções de
geometria. As lições eram malpagas e, com o minguado salário que recebia,
mal podia Mosab manter Takla, sua esposa, e Laila, sua filha. É bem verdade
que Takla, diligente e hábil, colaborava para a economia do lar, bordando
pequenos tapetes com legendas do Alcorão.^1 Esses tapetes (chamados “os
tapetes de Takla”), enriquecidos com figuras geométricas, eram vendidos aos
ricos damascenos e aos mercadores de Alepo.
Ora, aconteceu — Maktub!^2 — que certa manhã (como de costume)
preparava-se o bom talebe para sair (já se achava, aliás, na porta de sua casa)
quando dele se acercou um desconhecido de turbante claro e albornoz de
seda. Tinha a fisionomia de um adolescente e os seus olhos eram claros.
Presa à cintura, uma adaga finíssima, ornada de cornalinas.
Trocadas as saudações habituais, disse o visitante do albornoz de seda,
com ar compenetrado:
— Chamo-me Nhamã Yaussef, e sou um dos oficiais do califa. Venho
procurá-lo por ordem expressa do nosso glorioso soberano Abd al-Malik bin
Marwan,^3 emir dos árabes. O rei deseja receber, em audiência, o talebe
Mosab Ali Hosbã. É urgente!
O frio da palidez cobriu o rosto de Mosab. O rei mandava-o chamar?
Exprimiria aquele espantoso e inesperado convite uma honra excepcional.
Aparecia com o esplendor lendário de um tapete mágico capaz de arrancar o
talebe da realidade triste da vida e levá-lo ao país encantado dos sonhos.
Mosab tremia, emocionado. Que poderia futurar de tudo aquilo? Sentiu
gotas de suor riscando arabescos em sua testa.
— Permiti, nobre capitão — gaguejou, arredondando os olhos de
espanto —, que eu possa me vestir com mais apuro! Não seria correto
aparecer em trajes tão rudes na presença do nosso incomparável emir.
Voltarei dentro de poucos instantes.
E Mosab, no nervosismo em que se achava, deixou o oficial do califa na
porta e correu para os aposentos internos de sua casa.
— Takla! — gritou ele, já no harém, chamando a esposa. — Quero o
meu turbante novo e os meus trajes de festa! O rei quer falar comigo!