Mais acertado (prosseguiu Mosab em suas intempestivas reflexões) será
procurar o xeque Ismahil Mukbel e fazê-lo sabedor das insinuações
malévolas que circulam a respeito de sua primeira mulher, Rahif. O honrado
Ismahil fará um escândalo. Os irmãos de Rahif ficarão furiosos. E ganharei,
com a indiscrição, vários inimigos (quatro, cinco, talvez).
A lembrança da intriga sórdida repugnava-o. O xeque Ismahil era
homem bom, cordato, sempre o acolhera com generosa amizade. Grande
indignidade seria golpeá-lo daquele modo.
O mais prático (considerou Mosab, seguindo a trilha incerta de seus
pensamentos) seria procurar os poetas Nacif, Zogaib e Amin (que se tinham
na conta de talentosos) e declarar, sem rebuços, em voz alta, na presença de
várias pessoas: “Os versos que vocês escrevem são tolices, baboseiras sem
nexo, desconchavos sem métrica!” E feita essa crítica (verdadeira, aliás), a
conta dos sete inimigos estaria iniciada com três nomes: Nacif, Zogaib,
Amin... Ficariam faltando apenas quatro.
Essa extravagância, de criticar poetas, foi logo rejeitada. Mosab sentia-se
bem em companhia dos poetas. Não o agradava ferir os homens de
pensamento.
E, naquele entrechoque de pensamentos, entrou Mosab em sua casa,
aturdido, desolado; esbarrava nas paredes; apoiava-se nos móveis como um
bebedor de haxixe.
Takla, sua esposa, correu ao seu encontro e interpelou-o, aflita.
Por Alá! Que havia ocorrido no palácio? Que pretendia o califa? Por que
voltava ele assim abatido, estonteado?
Narrou Mosab tudo o que ocorrera durante a audiência, e a fez ciente da
exigência inominável do califa: ele, Mosab, seria nomeado grão-vizir se
arranjasse (até a terceira prece do dia seguinte) sete inimigos, inimigos
verdadeiros!
— Mas isto é facílimo — declarou Takla, alçando para ele os grandes
olhos pretos. — Nada poderá impedir a tua nomeação. Os inimigos
surgirão, às dúzias, pelas ruas, pelas praças, pelas mesquitas...