Uma lenda de Krishnamurti
Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho de Deus
permanecerá.
Davi, Salmos, 19-91.
O rapaz pálido, com uma túnica andrajosa, que se achava ao meu lado,
passou a mão pela testa e, voltando-se para Krishnamurti, assim falou em
tom calmo e respeitoso:
— Mestre! Uma dúvida veio refugiar-se em meu coração. Sinto em mim
um feixe de espinhos que me torturam...
— Qual é essa dúvida, meu filho? — volveu o Iluminado, cruzando os
braços e erguendo os olhos para a imensidade do céu.
— Senhor! — respondeu o jovem da túnica andrajosa. — A minha
dúvida está ligada a delicado problema da vida: quem tem mais amor, ou
mais apego, aos bens materiais, os ricos ou os pobres? Onde apontar os mais
afeiçoados às suas fazendas ou os mais agarrados aos seus trastes? Terá o
mendigo mais aferro aos seus andrajos do que o milionário às suas baixelas
de ouro?
O sábio e judicioso Krishnamurti não respondeu. Baixou o rosto sereno,
de linhas impecáveis, e ficou um instante a meditar. Decorridos alguns