eram listradas. Sob a gola, também listrada, de sua blusa, rebrilhavam fios de
pérolas. Pompeava brincos de fantasia e pulseiras largas de ouro e esmalte.
Fazia-se acompanhar, num requinte de luxo, por uma “escrava” de rosto
bronzeado que agitava um grande leque de plumas brancas.
— Não danças? — perguntou-me, entreabrindo os lábios num sorriso
encantador.
E rematou em tom brejeiro:
— Há pouco tive a impressão de que fugias de mim!
— Receio o ciúme de César! — respondi, tentando um galanteio de
sabor histórico.
— Ora, ora — replicou amável, com seu belo e claro sorriso. — Pelo que
vejo, estás esquecido das glórias de teu povo. Os árabes, sempre audaciosos e
invencíveis, conquistaram e dominaram o Egito.
— Sim — concordei sem hesitar. — Bem sei que os árabes conquistaram
o Egito. Mas essa incrível proeza só foi possível num século em que a
irresistível Cleópatra não se achava mais no trono. Diante da graça e da
beleza os árabes não vencem. São vencidos!
Aquele inofensivo diálogo com a rainha do Nilo foi interrompido com a
súbita chegada do pecunioso James Dudeney, dono da casa. Ostentava
modelar fantasia de Hamlet. A presença do milionário fez com que a
sedutora Cleópatra se afastasse, seguida de sua não menos sedutora
“escrava”.
— Preciso de teu auxílio, meu amigo — disse-me Dudeney em voz
baixa, com ar preocupado. — Tenho a impressão de que se acha em nosso
baile de hoje um convidado indesejável. Estou na dúvida. Não sei como agir
no caso.
— Aponta-me o folião sobre o qual recaíram as flechas de tuas suspeitas
— retorqui.
— É o xeque da faixa azul!
Eu já havia, realmente, atentado na figura soberba e distinta daquele
cavalheiro que se exibia, entre os convivas de Dudeney, sob o disfarce de