incultas. Foi mais um lamentável desserviço prestado à matemática. Devo
dizer, ó rei do mundo — e falo agora como matemático —, que o prestígio
dessa ciência, sua preponderância entre os homens, resulta principalmente
da forma obscura, intrincada e incompreensível com que nós, os
matemáticos, formulamos as teorias e arquitetamos os problemas e
equações. O respeito que os homens em todos os climas do mundo
dispensam à ciência dos números provém unicamente das fórmulas
geométricas e dos símbolos algébricos para eles, em geral, incompreensíveis.
“O que não se entende venera-se”, proclamava um filósofo, exprimindo
assim, em poucas palavras, uma verdade incontestável. A cada momento
vemos centenas de homens exaltando determinado autor com desmedidos
elogios. Se investigarmos as razões desses louvores, vamos encontrá-las
facilmente. O autor focalizado pela admiração do grupo escreve coisas
nebulosas, desenvolve uma filosofia transcendente que seus leitores
extasiados e boquiabertos não atingem nem poderão jamais atingir! No
domínio das ciências, a veneração dos homens só é concebida às verdades
que suplantam o entendimento. Aquele que efetua a adição de três parcelas
inteiras ou calcula a diferença entre sete e cinco não chega a inspirar
admiração no espírito de um modesto aguadeiro de Bagdá. E isso por quê?
Porque somas e subtrações de inteiros todo mundo entende; são operações
que não envolvem mistérios em transformações abstrusas. O viandante sorri
deleitado para a água límpida e transparente, mas teme e respeita o lago cujas
águas escuras e lutulentas são invioláveis para a menor réstia de luz! Resulta
daí a nobre e prudente preocupação de todo algebrista em não tornar claro o
que deve ser obscuro; em não revestir de simplicidade o que deve ser
embaraçoso e complicado. Competia, pois, ao jovem Beremis Samir o dever
de abordar os problemas que se apresentam no quadro da vida em termos
confusos, por meio de um raciocínio ordenado e inteligível, de modo que a
marcha do cálculo ficasse muito acima do campo de compreensão de seus
ouvintes. Chegaria, no fim, à solução certa, mas atingiria esse objetivo
seguindo um caminho ladeirento e tortuoso que bem poucos poderiam
trilhar. Que fez o nosso imprudente e estouvado visitante? Arrasou as
dificuldades, desmantelou as dúvidas, eliminou as arestas de sutileza do
cálculo. Provou terra a terra, com sua eloquente e exuberante explicação,
que o problema apresentado neste magnífico divã pelo emir dos crentes não
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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