O generoso rei Ali Djafar Billah, ao passar certa vez com sua caravana
pelo oásis de Zamarak, foi informado da existência do prodigioso ancião.
Mandou o monarca que trouxessem o velho à sua tenda e interpelou-o.
— Meu amigo — disse-lhe bondoso —, bem vejo que sois, ainda, forte e
sadio numa idade em que o homem, em geral, já se vê trôpego, fraco e
esmagado pelo peso da própria vida. Se o egoísmo humano não vos impedir
de revelar o vosso segredo, dizei-me: qual foi o bálsamo maravilhoso que
vos proporcionou essa invejável vitória sobre o tempo e essa resistência para
a vida?
— Rei magnânimo e justo — retorquiu o velho —, vou atender ao vosso
pedido. Não conheço, porém, bálsamos nem remédios milagrosos. Devo a
saúde que ainda hoje possuo ao regime de vida que adotei. Esse regime
admirável resume-se em três preceitos para mim invioláveis e sagrados.
— Qual é o primeiro? — indagou o rei com afetada paciência.
O velho de 97 anos respondeu, baixando um pouco a voz:
— Nunca perdi o orvalho da manhã!
— Por Alá! É interessante! — comentou, jubiloso, o monarca. —
Compreendo muito bem o sentido oculto de vossas palavras: quereis dizer
que sois por hábito madrugador e que só um homem dado ao trabalho ativo,
de vida metódica, nunca “perde o orvalho da manhã”.
— O segundo preceito — acrescentou o ancião, depois de breve silêncio
— é o seguinte: nunca bebi de um cântaro sem me assegurar da pureza da
fonte!
— Muito bem! — tornou, risonho, o soberano. — A vossa regra de bem
viver exprime o cuidado que o homem deve ter com a própria alimentação.
Nossa saúde depende muito da água que bebemos e do pão que comemos.
Qual o terceiro e último preceito?
— É o mais importante dos três — confessou o velho beduíno. — A esse
preceito devo exclusivamente a vida calma e tranquila que tenho tido: jamais
contrariei alguém!