se de 1800 garrafas de champanhe e 600 de uísque, uma liquidez ao nível dos
bolsos de condes, princesas e ídolos que se embriagaram dos encantos de
Lisboa.
No dia 6 de setembro, Salazar é visto pelos dois médicos.
Nessa manhã, tentara ainda registar na agenda as audiências do dia, mas a
letra não lhe obedecera e as palavras parecem gatafunhos.
Tem gravada no rosto uma tristeza e uma amargura profundas. Vasconcelos
Marques impressiona-se com o «aspeto acabrunhado» de Salazar, que está
sentado numa cadeira e com as pernas embrulhadas numa manta.
Decorridos os exames, com o doente deitado despido na cama do seu quarto,
conclui-se que o caso é da máxima urgência.
Salazar sofrerá, pensa-se, de um hematoma intracraniano ou de trombose,
mas são precisos exames mais cirúrgicos e fiáveis, num hospital devidamente
apetrechado para o efeito.
Deve agir-se rápido. Caso contrário, o Presidente do Conselho pode entrar
em coma. Maria pede, contudo, um compasso de espera: a viagem, sugere,
deve realizar-se à noite, evitando assim que Salazar possa ser reconhecido por
olhares mais despertos à luz do dia.
Os amigos, o chefe da polícia política e os governantes que vão sendo postos
a par do problema temem, mesmo assim, que a notícia tenha perna longa e
origine uma alteração da ordem pública.
Nas horas que intervalam o diagnóstico e a partida para o hospital, o ditador
ainda mantém uma breve reunião de trabalho com o ministro Mota Veiga, após
grande insistência junto de quem o tenta demover. Faz alguns telefonemas «em
tom de despedida misteriosa», por fim consciente dos perigos que corre, sem
contudo os conseguir descrever: «Não sei o que tenho, estiveram aí uns
médicos a observar-me os olhos, não sei», lamenta-se, ao telefone, a Franco
Nogueira, que insistentemente ligara para o Estoril, sem obter respostas.
Lopes da Costa, da Cruz Vermelha e amigo da família de Salazar, é chamado
ao forte para definir as providências necessárias ao internamento.
Só nesse dia, as empregadas têm noção exata do que se passa, contagiadas
pelo alvoroço.
Tal como o restante pessoal doméstico que se encontrava no Estoril, Rosália
não presenciara a suposta queda, mas guarda na memória uma versão curiosa
do sucedido, alimentada pela governanta e nunca apurada na totalidade. «Era
habitual o senhor doutor ler os jornais no corredor que dava para a capela do
forte. De um lado e do outro havia plantas, cadeiras de verga e também de lona,
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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