Amparado por polícias, num esforço hercúleo, Salazar assoma à varanda de São Bento. O povo
invade os jardins para lhe dar os parabéns. Na varanda ao lado, Rosália é a última da direita.
Os portões da residência oficial são abertos a curiosos e conhecidos na
esperança de que o octogenário possa, pelo menos, acenar à varanda. Ele acede
e surge à janela do primeiro andar. Na varanda do lado, Rosália observa o
esforço hercúleo. «Agarrado por dois polícias» e amparado por enfermeiras,
Salazar dá dois passos, sorri, acena a quem o aplaude e incentiva, e volta a
recolher-se, para se sentar na cadeira de rodas especial, oferecida pelo
banqueiro Manuel Queirós Pereira.
A Emissora Nacional e a RTP rumam a São Bento.
Durante o dia prepara-se transmissão especial para mostrar Salazar ao País,
após longa e periclitante ausência. O pessoal da casa fica assarapantado com o
aparato de câmaras, fios e luzes, coisa nada costumeira por aquelas bandas,
sempre austeras e pouco dadas a exibicionismos.
Débil, amachucado e taciturno, Salazar veste um fato creme, camisa branca,
põe os óculos. «Foi preciso agarrá-lo, compor-lhe os braços, pois ele já não
tinha forças e tremia muito», explica Rosália.
A criada está por perto, à esquerda do ditador, para qualquer eventualidade.
O corpo frágil de Salazar afunda-se na poltrona favorita, preta e forrada a