Ainda antes da inauguração, fizera uma visita privada ao local, durante a qual
viu, na ponte, o seu nome cravado. «As letras estão fundidas no bronze ou
simplesmente aparafusadas?», pergunta, respondendo de chofre. «É que se
estão fundidas no bloco de bronze vão dar depois muito trabalho a arrancar»,
responde irónico.
Quando chega o dia da inauguração, a 6 de agosto, a multidão invade a zona
desde o despertar. Seguem-se horas de cumprimentos, salamaleques, mesuras e
um discurso de França Borges, autarca de Lisboa, que compara Salazar a Nuno
Álvares Pereira. O chefe do Governo fica possesso com «a estupidez e o
ridículo» do exemplo dado, mas resguarda-se numa ironia severa: «A não ser
que ele me tivesse querido comparar ao cavalo de Nuno Álvares, mas isso
também parece um pouco de mais.»
Os festejos duram mais dois dias, com receções na autarquia, mais
foguetório, missa campal e nova cerimónia no Palácio de Queluz.
Ali se desloca Amália Rodrigues, com quem Salazar passa uma parte da
noite a conversar, entusiasmado. Dias depois, a fadista dá-lhe troco. Numa
carta enviada para São Bento, confessa não ter resistido à vontade «de lhe
gritar o meu bem-haja! Bem-haja por nos ter dado este poder de desforra!!!»,
escreve a cantora, confessando: «O meu orgulho e o de todos os portugueses é
quasi tão grande e tão bonito como a ponte! Se não receber uma carta de cada
português é porque são menos atrevidos do que eu!», graceja a fadista,
terminando com um sentido «Bem-haja toda a vida», em caligrafia de tamanho
a condizer.
Quando chega dezembro, Salazar volta a ser um poço de contradições. Por
um lado, é capaz de estar ao telefone até às quatro da madrugada, lúcido e
repousado, a discutir os problemas de Portugal, da Rodésia e da África do Sul.
Por outro, conhece os rumores que correm sobre graves doenças de que
supostamente padece e assaltam-no, de novo, pensamentos negros sobre a
sucessão. «Eu quero ir para Santa Comba, descansar e ler livros antes de
morrer. Parece-me que tenho direito a isso», conclui, de forma brusca, uma
conversa com Franco Nogueira.
No último minuto do ano, o ditador despede-se de 1966 distribuindo bolos e
vinho pelos elementos de segurança do palacete. Pelo Natal gastara quase 1300