A última criada de Salazar

(Carla ScalaEjcveS) #1

«certas críticas». Põe-no ao corrente da vida real e até de certas notícias que os
secretários lhe escondem, como perceberá o cardiologista Eduardo Coelho.
Marta, irmã de Salazar, não morre de amores por Maria, mas disfarça.
As irmãs usam de uma diplomacia cínica, o que nem assim impede
discussões sobre os caixotes do lixo e outras miudezas nas idas a Santa Comba.
A francesa Garnier notará o azedume quando por lá passar e Salazar confessará
à escritora que Maria o trata melhor do que a família, desabafo
convenientemente retirado da edição portuguesa de Férias com Salazar.
«Conheci a Leopoldina, a Marta e a dona Marquinhas. A Marta ia ao palacete
com frequência e ficava por vezes oito dias. Mas elas não gostavam de dar
trabalho», explica Rosália.


Quando precisa de algo, Marta escreve diretamente ao irmão.
Por vezes, solicitando que atendesse a situações miseráveis vividas no
Vimieiro. Foi o caso de uma prima em terceiro grau que Salazar acolheu ainda
criança no palacete. Ali esteve dos 4 aos 8 anos, mas aquilo que se assemelhara
a uma redenção familiar, tornara-se um pequeno inferno. O serviço era duro,
Maria dava-lhe frequentes tareias, as brincadeiras eram vigiadas, a relação com
Salazar quase nula, as proibições – incluindo a de se sentar à mesa do seu
protetor – imensas, e até as idas à missa obrigavam a acompanhamento
policial.
A rapariga acabou recambiada para a terra, onde o pai, entretanto, até cortara
relações com os amigos por causa de ditos e reditos: zangara-se com as
insinuações de que Salazar seria, afinal, o pai da criança.
Para assuntos de outra dimensão, Marta preferia incomodar os membros do
Governo, aos quais recorreu várias vezes, ao invés de se insinuar junto do
irmão, avesso a constantes interferências familiares.
Nos gabinetes ministeriais eram conhecidos os pedidos de Marta, muitas
vezes por escrito, e reza a história que nem sequer se detinha diante de
patentes.
No auge da Guerra Colonial, o capitão Vargas Cardoso, do Regimento de
Infantaria N.o 1, foi alertado para o facto de se encontrarem no portão do
quartel, em Queluz, os pais de um soldado, acompanhados pelo presidente da
junta de freguesia de Santa Comba Dão.
O nome da terra, por si só, já merecia uma atenção especial.
Os «peregrinos» iam carregados de garrafões e sacos de iguarias. Desejavam,

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