Necessidades, com convidados do governo brasileiro, escreve à mulher do
ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Nogueira: «(...) Há especial
necessidade de se estudarem as ementas, de modo que os hóspedes não tenham
de comer de manhã e à noite a mesma lagosta e a mesma vitela. Isto é mais um
motivo para que lhe peça o favor de rever, escolher e afinar as ementas, não
esquecendo os vinhos (...)»
As raparigas da casa são enviadas diariamente à Praça da Ribeira para fazer
compras. É meticulosa com o feijão-frade para cozer com a petinga e o feijão-
branco e a cenoura para guisar com o rabo de porco.
Em ocasiões especiais, vai a própria Maria ao mercado escolher um bom
naco de carne ou uma boa pescada, isto quando a peixeira não lhe leva à porta
sargos ou sardinhas. «Por norma mandava-me a mim e a outra empregada, a
Carolina, com ordens para regatear tudo, do peixe às hortaliças. Deixava-se
pago e apalavrado. Depois ia lá o senhor Furtado carregar. Quando chegávamos
ao palacete, ela perguntava logo pelo troco», descreve Rosália.
As curtas viagens à praça corriam sempre sem alarido.
Mas certa vez houve caso.
Rosália regressava das compras de hortaliça e peixe fresco, distraída na
conversa com Carolina. Perto do Cais do Sodré, um carro surgira de repente e
ela tomba. «O homem não teve culpa, fui eu que me meti à frente. Mas a
polícia, nesse tempo, tinha muito poder.»
O acidente deixa de o ser: a rapariga trabalha na casa de Salazar, o que só
piora o cenário. «Agarraram logo no homenzinho e queriam à viva força que eu
dissesse que ele tinha culpa. A mim, levaram-me ao hospital, mas não me
aconteceu nada, não me magoei.»
O episódio acaba no tribunal de Alijó. Rosália, menor de idade, pouco pode
fazer para ajudar «o homenzinho que, cheio de medo, chorava como as vides».
Salva-o a mãe da criada de Salazar: perante o juiz, declara a inocência do
alegado «criminoso», para desfeita da polícia. «Se eu fosse outra pessoa, à
época, ninguém se tinha importado», reconhece a padeira de Favaios.
No palacete, Rosália não perdera o jeito e tenta também agradar: amassa e
coze dez broas por dia, distribuídas pelas visitas. Salazar faz questão de dizer
aos convidados que «é a pequena que as faz». Provadas, as broas são depois