amor de um rei. – Porém, ainda bem que vim, ao que julgo. Atendendo a que a tua mulher ainda
nem arrefeceu na sepultura, não é conveniente receberes Mistress Stuart aqui a sós. Já te
esqueceste de que temos um convite de Lorde St. Albans para jantar esta noite? Vejo que não
estás vestido nem preparado.
O duque despediu-se de Frances com uma vénia.
- Agradeço-lhe a gentileza dos seus sentimentos, Mistress Stuart. Lamento ter-me esquecido
deste compromisso. - Também tenho de ir. Espero que, com o tempo, a sua mágoa abrande. Rezarei por si, e
também pela sua esposa e pela sua filha.
O duque agradeceu-lhe e recolheu-se para ir mudar de roupa.
Frances ia chamar a criada para poder sair, quando se deparou de novo com o olhar do
Seigneur d’Aubigny fixo nela. - Mistress Stuart, qual é o significado desta visita? Vir aqui sozinha, sem ter sequer uma aia a
acompanhá-la, é um comportamento próprio de uma libertina, não de uma donzela cuja
inocência é alardeada por todo o palácio de Whitehall! – Adotou um sussurro ameaçador: –
Será que o que corre sobre a sua inocência tem sido exagerado? - Vim apresentar-lhe as minhas condolências – replicou Frances num tom gélido, recusando-
se a ser intimidada. - Mas não se dá conta, senhora, de que só pode causar mais dor ao meu sobrinho? Depois do
escândalo dos pais dele, o Charles sabe que tem a responsabilidade de redimir a honra da
família. Não vê que oferecer amor, quando o dever familiar exige outro rumo, não é uma opção?
Não interessa que ele a admire há muito... ele não está em posição de poder cortejar uma jovem
sem bens ou terras e cujo pai é um simples clínico da corte! O meu sobrinho detém uma posição,
um título, uma grande casa e uma centena de criados para sustentar. Acha que pode preocupar-se
apenas consigo mesmo na escolha de uma esposa?
Aproximou-se mais dela, de modo a que ela quase sentisse fisicamente as vibrações da sua
censura. - Seigneur d’Aubigny, interpreta-me mal. Vim simplesmente transmitir os meus pêsames e
oferecer compaixão. - Deveras? – A pergunta fervilhava de suspeitas. – Acha, senhora, que aquilo de que o meu
sobrinho precisa neste momento é compaixão, passado apenas um mês da morte da sua jovem
esposa, da parte de alguém que nada pode oferecer-lhe e que é o objeto de desejo do rei,
encontrando-se por conseguinte em posição de poder causar-lhe verdadeiros problemas ao
demonstrar tais cuidados?
A censura fria e arrogante do homem deixou Frances com vontade de o esbofetear e de gritar
que ele estava a dar um sentido completamente distorcido às suas intenções.
Mas estaria?
Endireitou as costas e fitou-o, olhos nos olhos. - Para bem dele, partirei. Condoo-me dele por, para além da irmã, o senhor ser o único
parente que ele tem.