Depois de a carruagem de Sua Majestade estar fora de vista, Frances encaminhou-se
rapidamente em direção a Barbara.
- Que encantador, Lady Castlemaine – comentou ela –, que se interesse tão subitamente pela
sua prole. Foi o sol que lhe afetou a cabeça? Ou tem a intenção deliberada de fazer sofrer a
rainha?
Os célebres olhos violeta de Barbara estreitaram-se, dando-lhe o ar de uma bacante ávida
por desfazer a rival. - Será possível, Mistress Stuart, que se atreva a fazer-me essa pergunta, quando a sua própria
existência e o conhecimento dos desejos luxuriosos do marido da rainha por si decerto lhe
causarão uma dor muito maior do qualquer outra que eu provoque? - Creio que estará ao seu alcance compreender, senhora, que, ao contrário de si – replicou,
com um olhar significativo para as crianças –, eu ao menos posso receber o crédito de resistir. - E julga-se muito nobre por isso, de uma inocência resplandecente! Mas eu vi como reagiu
quando o rei lhe tocou. Há uma palavra para mulheres da sua laia, Mistress Stuart. – Baixou o
tom da voz para um sussurro ameaçador. – Provocadora. - E há outra para as da sua, Lady Castlemaine – ripostou Frances, com vontade de bater
naquele rosto estragado e voraz. – Uma rameira. Mas as rameiras têm a desculpa da pobreza,
enquanto a senhora é filha de visconde. Por isso, não só é rameira, mas rameira por opção... e,
como a minha ama gosta de dizer, uma vez rameira, rameira para sempre. Ainda é jovem e
bonita, mas um dia será velha e ninguém a quererá.
Apercebeu-se do som de aplausos e, ao virar-se, deparou-se com Lorde Buckhurst e Lorde
Rochester, que batiam palmas com grande entusiasmo. - Minha querida Mistress Stuart – elogiou-a Lorde Rochester, com um sorriso malicioso
dirigido a Barbara –, diz-se de si que é simples e infantil, mas parece-me que tem juízo
suficiente para poder manter a cabeça erguida em qualquer companhia. Barbara, meu amor, a
senhora é o passado e Mistress Stuart é o futuro.
Depois do seu escaldante encontro com Barbara, Frances tomou uma decisão. Cumpriria os
seus deveres para com a rainha enquanto sua dama de companhia mas, para além disso, tentaria
levar uma vida tão calma quanto possível, evitando a companhia de grandes senhores, sobretudo
do rei, limitando-se a aproveitar os prazeres de Tunbridge Wells.
Em consequência, enquanto todos os cortesãos deambulavam à sombra dos castanheiros
bebericando as águas curativas, Frances pôs de parte as suas sandálias de seda preferidas,
adornadas com rosas brancas, e calçou uns sapatos resistentes, apropriados para um passeio
meditativo pelos campos.
Foi recompensada pela beleza do dia. O céu estava de um azul muito pálido, com algumas
nuvens altas dispersas e um véu de orvalho, tão delicado como um dos seus lenços de organdi,
ainda suspenso nas copas das árvores, que dava à paisagem um aspeto onírico, adequado à
disposição de contemplar o seu futuro.
Via o problema da seguinte forma: para assegurar um marido, precisaria de um dote, que não
tinha. Isso deixava-lhe a opção de encontrar um cavalheiro que não quisesse saber de tais