deles estavam espalhadas, como se tivessem sido atiradas no auge daquilo a que se tinham
abandonado.
A primeira reação de Frances foi retirar-se tão depressa como uma sombra, mas o jovem
abrira os olhos. Ela viu que eram dourados como a pele dele, salpicados por um castanho mais
profundo. O jovem ergueu uma mão para a cumprimentar, como se se encontrassem num baile ou
numa rua da vila.
- Tom Howard. Prazer em conhecê-la.
Abanou delicadamente a figura adormecida a seu lado. - Mary, está na altura de acordarmos e enfrentarmos as realidades da tarde. Tenho de partir
para Londres. Desperta.
Era tão estranho ouvir que alguém a tratava não por Mall ou Borboleta, mas pelo seu nome de
batismo, Mary.
Os seus olhos ensonados iluminaram-se quando recaíram no amante dourado. - Não, Tom. – Escondeu o rosto no ombro dele, inspirando-lhe a pele como se fosse um
perfume adocicado. – Não quero deixar esta cama, nunca mais.
Ele riu-se. - Nem eu. Mas é necessário. Vê, está aqui um anjo que veio acordar-nos.
Mall olhou para Frances, parecendo só então dar pela sua presença. - Está tudo bem? – Sentou-se. – Passa-se alguma coisa com a pequena Mary?
Desde a perda súbita do seu querido filho Esme que se preocupava muitíssimo com a
segurança de Mary.
Frances abanou a cabeça, sentindo-se culpada por ter ido sobrecarregar Mall com o fardo
dos seus problemas. - Não, acabo de a ver a correr e a saltar no campo com a ama.
Mall debruçou-se e o seu cabelo caiu como uma cortina castanha sobre o peito de Tom. - Que ideia tentadora! E se também fôssemos dar cabriolas pelos campos, meu querido?
Ele riu-se, apanhando-lhe o cabelo com uma mão e beijando-lhe o pescoço. - Nós, não. Seríamos uma afronta para a populaça.
A brandura abandonou-lhe os olhos por um instante e inquiriu: - Por eu ser uma bruxa de quase quarenta anos e tu um jovem afortunado com metade da
minha idade? - Sabes que não era isso que eu queria dizer.
Frances ficou impressionada com a ternura protetora com que ele a tratava. Era como se Mall
fosse uma criança obstinada e ele o pai sensato e judicioso.
Tom segurou Mall pelos ombros com gentileza e saiu da cama, envolvendo o corpo com o
lençol para tapar a nudez. - Infelizmente, tenho de voltar a Londres para o meu turno de vigia. – De súbito, falava num
tom sério e triste. – Queira dar-me licença, senhora – disse a Frances, fazendo uma vénia e
apanhando as suas roupas como se apenas recuperasse um lenço que tivesse deixado cair. –
Vestir-me-ei no quarto ao lado, minha senhora, para não ficar corada. – O sorriso pronto tinha