- O que terá acontecido à rainha? Ultimamente parece diferente.
Lady Killigrew encolheu os ombros. - Talvez esteja cansada de ser ignorada pelo marido e deseje afirmar-se por si mesma. –
Lançou um olhar significativo a Frances. – Deve ser difícil viver rodeada por tantas amantes
quando se é apenas a esposa. - Seria certamente um duro golpe para Lady Castlemaine se o rei começasse a dar-se conta
de que tem esposa. - Só por segurança – sussurrou Frances –, se não tivermos regressado ao crepúsculo, será
melhor que o informe.
Worsley End era uma bela mansão com terrenos privados, junto à encantadora aldeia de
Isleworth. Fizeram a primeira parte da viagem de carruagem – e até isso foi um motivo de
alegria para a rainha. Viajar numa carruagem vulgar!
- Parece-vos que seremos mandadas parar por salteadores? – perguntou, a bater palmas de
expectativa. – Decerto ficariam surpreendidos ao encontrarem três mulheres vestidas como
cavalheiros!
Para sorte de qualquer salteador que, inadvertidamente, tentasse deter a rainha de Inglaterra –
ato de traição cujo perpetrador seria enforcado, eviscerado e esquartejado – chegaram ao
destino sem qualquer interrupção.
Três elegantes cavalos aguardavam-nas nos estábulos, pois a rainha já os havia reservado,
como se tornou aparente pela troça e pelos gracejos bem-humorados dos cavalariços, sem
ocultar a sua identidade monárquica. - Bem, meus belos senhores – disse o estribeiro, enquanto piscava o olho a um dos moços de
estrebaria –, que desfrutem de um bom galope. Está um excelente dia para isso. Se seguirem
pelo parque e passarem por aquela colina adiante, só terão de saltar três ou quatro barreiras.
Cary Frazier empalideceu. - Não podemos ir pela estrada?
- Se estiver disposto a recuar três milhas, jovem senhor.
- Vamos, cavalheiros – instigou a rainha. – Como dizem vocês em Inglaterra? Tally-ho!
Frances depressa olvidou os estranhos trajes que envergava e até o facto de, em vez de estar
numa sela amazona, ter a inusitada experiência de montar como um homem. Assim que sentiu o
vento a refrescar-lhe as faces e observou as nuvens a dardejarem sobre as colinas, deixando um
padrão de luz e sombras como a manta de retalhos da cama da sua velha ama, sentiu-se
verdadeiramente feliz.
Adiante, havia uma barreira.
Frances ficou receosa: ali estava ela, a cavalgar sozinha, quando a rainha de Inglaterra estava
sob a sua responsabilidade. Se Catarina caísse do cavalo e se magoasse, seria ela quem seria
considerada culpada.
Saltou a primeira barreira com facilidade e a rainha seguiu-a, mas Cary abanou a cabeça,
com o rosto mais pálido do que soro de leite.