propósito de uma esposa dar filhos ao marido? – perguntou, de súbito agitada. – O afeto, o
amor, prezar todos os seus sonhos e empreendimentos de nada conta?
- Deveria contar, Majestade, e tenho a certeza, na verdade, de que conta. – Pensou no outro
Charles Stuart, preso a uma esposa que não o queria nem o prezava, e ocorreu-lhe que por vezes
a crueldade da lotaria do casamento era um pau de dois gumes. – O rei dá-lhe grande valor e
não prestará atenção a comentários descabidos dos seus súbditos. - Sim, mas durante quantos anos mais? E se eu nunca conseguir dar-lhe o herdeiro por que há
tanto espera, e tiver de continuar a ver Lady Castlemaine a aumentar a ninhada a cada ano que
passa? Em lugar do filho legítimo por que o meu marido anseia, o trono terá de receber o seu
irmão James!
Levantaram-se, geladas, imaginando aquele futuro trágico. Se o duque de York viesse a ser
rei, de novo uma guerra poderia tomar conta do país. E tudo porque Catarina não conseguia dar
um herdeiro à nação.
Ela começou a desprender o cavalo. - Vamos, temos de ir. Se não formos ao seu encontro, Mistress Frazier começará de facto a
preocupar-se.
Viram Cary Frazier à espera delas, sondando ansiosamente a pista. - Oh, Deus seja louvado. Já são duas horas e ficará toda a gente alarmada se não voltarmos
em breve.
Ao virarem os cavalos na direção da aldeia de Isleworth, depararam-se com mais gente do
que à ida, mulheres idosas com feixes de lenha às costas, lavradores a regressar a casa, crianças
a saltaricar e donas de casa a conversarem enquanto tiravam água do poço. No centro da aldeia,
aperceberam-se de que apontavam para elas no meio de uma onda de excitação, enquanto
meninas de seis ou sete anos corriam pelos relvados para levar o recado, e logo mais habitantes
começaram a juntar-se às portas das suas casas. Frances seria capaz de jurar que ouvira a
palavra «rainha» e, com um pânico crescente, deu-se conta de que tinham sido reconhecidas. De
repente, uma multidão de aldeões corria na direção delas.
Para horror de Frances, viu que se tratava de gentalha enfurecida que não desejava dar as
boas-vindas à rainha, mas insultá-la pelo seu catolicismo e pela sua esterilidade. - Vá s’embora para Porchugal! – gritava um deles.
- Não vale mais do que uma cabaça vazia para assustar crianças à noite! – acusou uma velha
engelhada, debruçando-se no parapeito da janela para aproximar da rainha o seu rosto. - Escutem-me! – exigiu Frances às pessoas que se tinham reunido, ao mesmo tempo que fazia
sinal a Cary para que avançasse com a rainha até um lugar seguro.
Frances não era fraca amazona e, enquanto falava, colocou-se de pé em cima do dorso do
cavalo, um truque que aprendera em criança.
A multidão susteve a respiração. - Ela não pediu para ser vossa rainha, foi enviada para cá. – Frances sabia demasiado bem o
que se sentia por não se poder decidir o próprio destino. – Ela não tem qualquer controlo sobre
a possibilidade de conceber uma criança, assim como a senhora – continuou, apontando para a