Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Tenho estado hospedado em casa do meu tio. Contudo, tenciono regressar a Londres assim
    que possa.

  • Não será perigoso?

  • Estou convicto de que não passarão muitos dias antes que o nosso rei seja restaurado ao seu
    legítimo trono.

  • Espero que tenha razão.
    Frances viu que Mall apontava para o sobrinho e para a porta ao lado deles, que estava bem
    fechada. Por diversão, seguiu as instruções de Mall, lançando um olhar tímido para baixo e
    depois para a porta fechada.
    Charles Stuart observava-a, com um ar bem-disposto.
    De repente, sem aviso, o papagaio abandonou o braço de Frances e pousou na ombreira do
    jovem. Este ergueu uma mão, e o papagaio apressou-se a saltar obedientemente para o dedo
    médio dele.

  • Bom dia, Charles Stuart, filho do Seigneur d’Aubigny – cumprimentou-o num tom cordial.

  • Céus! – maravilhou-se Mall. – A criatura fala.
    Frances desmanchou-se a rir, esquecendo por completo todas as instruções de Mall acerca da
    arte da coqueteria.

  • Os meus parabéns – disse a Charles, encantada. – Não nos tinha dito nem uma palavra,
    antes de o senhor ter chegado.

  • Dizem que tenho jeito com as criaturas de Deus – informou-a ele, com uma piscadela de
    olho que lhe alterou os modos formais. – Quanto menos atraentes são, mais gostam de mim.
    O papagaio grasnou, marcando o seu protesto.

  • E a propósito... – Deixou a frase incompleta, provocante.

  • Sim?

  • Terei todo o gosto em abrir-lhe essa porta sem que me pestaneje de forma tão óbvia.
    Virou-se, sorrindo para si mesmo, com o papagaio ainda no seu dedo como se se tivesse
    fundido ali com um ferro em brasa, enquanto Frances fumegava e concluía que,
    independentemente do que o pássaro estúpido houvesse decidido, Charles Stuart, filho do
    Seigneur d’Aubigny, se mostrava demasiado satisfeito consigo mesmo para o gosto dela.
    E, todavia, ao longo dos dias seguintes, não foi a confiança do recém-chegado ou os seus
    modos provocadores que insistiam em invadir-lhe o pensamento, mas antes o sorriso lupino que
    bailara por instantes nos seus olhos cinzentos. Por mais do que uma vez, deu por si a reviver
    aquele salvamento com um final muito diferente, no qual ele a levantava do chão e a resgatava
    para longe – se resgatar era a palavra adequada para descrever o que ela imaginava que
    acontecia depois, na privacidade do seu quarto.
    Parte daquele encanto proibido deveria estar patente na sua expressão, já que Mall não lhe
    dava descanso.

  • Então, Menina Inocente, a sua irmã conta-me que foi salva do ataque de soldados
    desenfreados... e que o seu salvador foi, nem mais nem menos, o meu sobrinho Charles.
    Ocorreu-me, por causa do cabelo arruivado, que poderia ser ele a quem se referia, mas concluí

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