uma forma marcial, o que sobressaltou todos e deixou as crianças a chorar. – E depois o Fogo!
E depois do Fogo, a Fome! E tudo isto acontecerá, a menos que se arrependam dos vossos
pecados.
No meio da assistência, algumas pessoas caíram de joelhos e começaram a confessar em voz
alta que tinham mentido ou roubado, ou que eram vis adúlteros, e que o Senhor deveria
realmente ter piedade e livrá-los daquela primeira parte da profecia.
Frances e as outras aias mantiveram-se em silêncio enquanto o cocheiro prosseguia caminho.
- Então, então – disse ela, virando-se para as demais. – Isto é um disparate supersticioso. Os
cometas são apenas estrelas que viajam lentamente pelo céu... não são presságios de
condenação e desastre. Homens como este, que se diz astrólogo, limitam-se a servir-se de
agoiros e símbolos para semear o medo e ganhar poder entre os ignorantes. - E estão a ser bem-sucedidos, o que é de lamentar. – Catherine Boynton tapou os ombros
com o manto, como se quisesse escudar-se do medo que vira nos olhos das pessoas. – Será que
o rei sabe que estas coisas ocorrem nas suas ruas?
Para além da guerra iminente e da ameaça da peste, Frances estava cada vez mais preocupada
com Walter. Tentou por várias vezes encontrá-lo nos seus alojamentos perto de Lincoln’s Inn,
onde os colegas lhe disseram que passavam dias sem que o vissem. - Anda na boa vida com os seus amigos ricalhaços – afirmara um deles, acenando com a
cabeça.
Frances ouvira-os, perturbada, recordando o estranho comportamento do irmão. Teria Walter
sido tão estúpido que privasse com Lorde Rochester e os da sua laia, atraindo sabia Deus que
desgraças?
Estava a ponderar se deveria ir a Somerset House e contar aos pais quando Mary surgiu, a
correr, de cabelo desalinhado e o rosto branco de preocupação. Estava tão agitada que a
abordou estando ela na companhia das outras aias, incluindo a condessa de Castlemaine. - Sossegue, Mary – tentava Frances acalmá-la, pensando que o pânico exterior finalmente a
atingira também –, o que a deixa tão perturbada? - É o duque de Richmond! A minha mãe enviou uma mensagem. Recebeu ontem um mandado
de prisão, do sargento de armas, para ser levado para a Torre.
Frances não acreditava no que ouvia. - Sob que pretexto?
- Por negligenciar os seus deveres de lord-lieutenant de Dorsetshire quando a nação está em
guerra com os Holandeses.
Frances sentia que lhe arrancavam o coração do peito. Visões de pelourinhos e masmorras
preenchiam-lhe a mente e teve de se agarrar ao espaldar de uma cadeira para não cair. - O que hei de dizer à minha mãe?
- Tentarei descobrir o que significa isso. Ela pode visitá-lo?
Mary abanou a cabeça. - Não sei.
- Vá ter com ela, já que poderá precisar do seu consolo e apoio.