não a vejo a suspirar por eles. – O rei abanou a cabeça, perplexo com o mistério amargo do
amor, mas Frances não tinha intenção alguma de explicar que as provocações de Charles Stuart
a faziam rir, que lhe agradava a solidez do seu corpo e que havia algo nos sonolentos olhos
cinzentos dele que lhe ateava uma paixão que ela nunca antes sentira. – Sou um homem racional
mas, por si, comporto-me de forma irracional.
Frances decidiu que estava na altura de o interromper.
- E todos sabem que também é justo, Majestade. É por isso que este ato parece tão indigno a
todos os que dele têm conhecimento.
Esperou, de respiração contida, sem saber se o duque seria libertado ou se ela acabaria
também na Torre.
O rei suspirou como se a decisão que estava a tomar pudesse ir contra os seus interesses. - Tem razão. Foi um ato arbitrário e não me orgulho dele. O duque de Richmond será
libertado. – Fez uma pausa. – Talvez a esposa dele possa agora garantir que ele cumpre os seus
deveres de lord-lieutenant. A necessidade será maior à medida que a guerra se confirme.
Ela inclinou a cabeça em resposta ao comentário delicado sobre a conduta do duque não ser
da sua conta, mas da esposa. - Obrigada, Majestade. Estou certa de que a duquesa ficará profundamente agradecida ao vê-
lo ser libertado.
Preparava-se para partir, mas ele agarrou-a por um pulso e puxou-a com força para si. - Continuo à espera, Frances. Sou um homem paciente, mas nunca houve quem me pusesse a
paciência à prova como a senhora.
Ela não sabia o que responder, pelo que ficou grata quando a cadela preferida do rei, Fymm,
divisou um esquilo e desatou a persegui-lo pelo jardim, ladrando tanto que houve quem abrisse
as janelas por cima deles.
Já no seu quarto, atirou-se para cima da cama, esforçando-se por não chorar. Havia garantido
a libertação do duque e, contudo, não tinha qualquer direito de se regozijar. Isso estava
reservado à esposa dele. Todavia, pelo que conhecia da senhora, seria raiva e recriminação o
que o esperaria à mesa, não um banquete que celebrasse o seu regresso. E quem julgaria a
duquesa, se soubesse a verdade?
Frances reparou que o papagaio lhe lançava um olhar tristonho. - Que obra-prima, o homem! – exclamou o pássaro num tom de espanto pesaroso.
- E tu, pássaro, com os teus olhos perspicazes e comentários astutos, lembras-me demasiado
aquele que quero esquecer. Está na altura de te arranjar outro lar e deixar de pensar nele.
Cobriu a gaiola com um velho camiseiro e, antes que o pássaro pudesse protestar, desandou
pelo corredor forrado a madeira de lambris até ao pequeno quarto onde Mary Lewis fora
instalada. - Trago-lhe boas notícias: o duque será libertado. E também um amigo com quem partilhar os
seus aposentos. É uma boa companhia e alegrar-lhe-á os dias com os seus comentários astutos e
sábios. - Fico contente pelo duque. Sempre me tratou com amabilidade. – Mary agarrou na gaiola. –