É verdade que posso ficar com ele? – Um sorriso de puro encanto iluminou-lhe as feições
desfavorecidas. – Nunca tive um animal de estimação. A minha mãe considera que todos os
animais são criaturas imundas que não passam de mais bocas para alimentar.
- Aqui estão os frutos secos e as sementes que ele come. Dê-lhe.
Ao passar-lhe a comida, Frances sentiu uma súbita angústia por cortar aquela ligação. - Adeus, pássaro.
O papagaio observou-a com um ar pensativo. - Adeus, não, duquesa. Até voltarmos a ver-nos.
E fez um gesto com uma asa, como se fosse um galã da corte a descrever uma vénia.
Mary riu-se, encantada. - Veja só, que criatura cómica, chama-lhe duquesa, apesar de ser apenas Mistress Stuart.
- É verdade. – Frances sentiu um calafrio. – Para um animal irracional, é cheio de surpresas.
Ia procurar a rainha e inteirar-se dos seus deveres para aquele dia, mas antes tornou a virar-
se para Mary. - Sinto-me muito aliviada pela notícia da libertação do duque mas, Mary, não quero que
pense que tive algo a ver com isso.
Mary Lewis, com a sagacidade que brilhava sob o exterior pouco agraciado, apressou-se a
assentir com a cabeça. - Com certeza, nunca teria pensado que tivesse, e certamente será o que transmitirei em
Cobham.
Contudo, assim que Frances saiu, Mary acariciou as penas eriçadas do papagaio. - Mas que te confessou ela, pássaro, sobre o duque de Richmond?
O pássaro fitou-a com os seus olhos redondos, considerando a pergunta durante bastante
tempo até que, por fim, lhe ofereceu a sua opinião: - Recordar Charlie Stuart!
- Terá sido um conselho insensato como esse, parece-me, que te fez mudar de casa. Pobre
Frances. Ser desejada por um rei e amar o marido de outra! Bem, guardarei o segredo dela, mas
espero nunca me apaixonar.
O papagaio, habituando-se à nova dona com uma descarada falta de fidelidade, palrou em
concordância.
A rainha, como Frances descobriu, estava ansiosa por deixar Londres e voltar às termas de
Tunbridge Wells.
- Irão todas as aias com ela? – perguntou a Jane La Garde.
- Para começar, só a condessa de Suffolk e algumas das damas de companhia mais velhas,
pois ela quer que as restantes permaneçam para embelezar a corte. A Catherine Boynton
esconde-se nos seus aposentos, com receio de ser escolhida e ter de deixar o seu Dick. – Jane
baixou o tom da voz. – Para ser sincera, embora a rainha diga que pretende tomar águas, cremos
que é o medo da peste que a leva a fugir, ainda que não ouse admiti-lo perante o rei que, por seu
lado, parece não sentir medo algum. Lembra-se de que tocou todos e mais alguns dos que tinham