- O rei anda de um lado para o outro na varanda, insultando os Holandeses: os malditos
navios de bloqueio deles estão a dar cabo de todo o nosso comércio. Pior, diz que andam a
espalhar a voz por toda a Europa de que o contágio se alastra por Londres, pelo que as
mercadorias inglesas começam a ser recusadas mesmo nos sítios onde ainda conseguimos
chegar. - Pelo menos nós ficaremos a salvo – declarou Catherine Boynton. – Sua Majestade faz
questão de que todas as suas damas de companhia se mudem para alojamentos em Tunbridge
Wells e daí, se a peste continuar a alastrar-se, para Hampton Court ou Salisbury, onde o rei
depois se juntará a nós. Londres começa a esvaziar-se devido ao receio do contágio.
Frances pensou de imediato nos seus pais e, claro, nos irmãos. Talvez assim, pelo menos, a
ameaça obrigasse a que Walter fosse afastado da capital.
Quando enviou uma mensagem à mãe, em Somerset House, a resposta que recebeu não a
tranquilizou. Ela e Sophia, bem como o pai de Frances, iriam para Paris, no séquito da rainha-
mãe. Já Walter, escrevia a mãe, persuadira-os de que ficaria melhor em Londres, debaixo do
olhar atento de Frances. - Mas como poderei vigiá-lo se eu mesma não estarei aqui? – perguntou Frances em voz alta,
sozinha no quarto.
Rabiscou uma resposta na qual afirmava que seria muito melhor se Walter os acompanhasse
até Paris e deu ordens a um mensageiro para que a entregasse o mais depressa possível em
Somerset House.
Apesar dos boatos da ameaça crescente, Mary Lewis recebeu uma incumbência que a mãe
insistia que ela tinha de cumprir. - Um fato de montar? Ela quer que eu me encarregue da entrega do fato de montar dela?
Frances mal conseguia acreditar que a duquesa de Richmond estivesse disposta a enviar a sua
jovem filha para as ruas de Londres, infestadas pela peste, em tal missão. - É um fato de montar muito especial – respondeu Mary, com um olhar jocoso que traía a sua
juventude. – Moldado em Paternoster Row com o pano mais fino que existe, num tom vermelho,
enfeitado com muita renda prateada. - Será melhor que eu a acompanhe – replicou Frances. – Posso não ser londrina, mas ao
menos tenho um maior conhecimento do traçado das ruas. Não sei se devemos ir de bote ou de
carruagem. - De bote – aconselhou Cary Frazier, que estava a perfumar umas luvas perto delas. – O meu
pai diz que, assim, o único contacto que se tem é com o barqueiro. Não terá de passar pelo meio
da gente e arriscar-se a ser contagiada.
Apesar de Frances não ter os conselhos médicos do Dr. Frazier em grande consideração,
aquilo fazia sentido, ainda que houvesse muitos habitantes que criam que o contágio não
provinha de outras pessoas mas de um miasma no ar, pelo que se protegiam com ramos de
flores.
O barqueiro nas escadas de Whitehall cumprimentou-as e gritou «Remos, para leste!», após o
que enumerou uma lista de fatalidades e desastres que incluía o alastrar do contágio, a tibieza
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1