perguntando o que haveria de fazer em seguida. Para além de rezar.
Estava de joelhos quando o criado bateu à porta.
- Julguei que talvez lhe agradasse tomar conhecimento da grande vitória do duque de York em
Lowestoft, minha senhora. Mostrou ao holandês aquilo de que somos feitos e mandou-o para
casa com a cauda entre as pernas. Nas ruas de Londres ouvem-se os canhões a ribombar. Há
fogueiras por todo o lado a celebrar a vitória!
Frances agradeceu-lhe e fechou a porta. Em toda a sua vida, nunca sentira menos vontade de
festejar.
Quando a ama chegou no dia seguinte, um pouco mais velha e hirta, mas encantada por
precisarem dos seus serviços, Frances contou-lhe a terrível verdade ainda antes de ela entrar no
quarto da doente. - Se preferir, poderá alojar-se na vila e regressar amanhã a Londres. Ninguém a criticaria por
isso.
A ama fungou sonoramente perante a proposta digna de um cobarde. - Já vivi três vintenas de anos e ainda mais dez. De que serve uma velha como eu neste
mundo? A menina é que deveria partir. Eu cuidarei da jovem.
Frances abraçou-a, comovida à beira das lágrimas. - É certo que partirei. Mas será apenas uma breve ausência. Quero visitar a Viúva Wyatt.
- É do Senhor que precisa, não de uma boticária.
Frances apertou-lhe as mãos, reconfortada pela presença familiar da ama. - Deixarei o Senhor para si e escolherei a boticária. Talvez possam trabalhar em conjunto.
- Então, filha, nada de blasfemar. Para Deus tudo é possível. Porém, se vai a Londres, talvez
possa inteirar-se do tonto do seu irmão Walter. - O Walter? Certamente terá ido para Paris com o resto da família!
A ama abanou a cabeça, com a ansiedade a toldar-lhe os olhos. - Recusou-se a ir. Fugiu. Disse que ficaria melhor consigo.
A ideia de Walter estar sozinho na cidade infestada pela peste fez com que o sangue de
Frances gelasse. Teria de fazer o que pudesse para o encontrar.
Viajava havia quatros horas sem qualquer contratempo quando chegou à barreira de
Woolwich, onde apanharia o ferry para atravessar o rio e chegar a Londres; ali parou,
fascinada. Todo o rio que os seus olhos conseguiam abarcar estava apinhado de pequenas
embarcações pejadas de cabazes e malas, mobília e pessoas. Parecia que metade dos cidadãos
de Londres a abandonava, trocando-a pela segurança do campo. E só Frances, uma entre mil, ia
fazer a viagem para norte, de regresso à cidade.
Em Woolchich, deixou o cavalo nos estábulos de aluguer e apanhou um bote coberto, pois
assim chamaria menos atenções e não teria de suportar os comentários do barqueiro. Neste
aspeto não teve sorte, pois o comandante parecia ter sido educado na mesma escola dos
barqueiros.
- Tem a certeza de que quer ir para Londres agora, jovem cavalheiro? – inquiriu ele,