Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Venha, Mistress Stuart – disse a rainha, dando-lhe a mão –, vamos caçar com falcões antes
    que o sol se ponha e seja altura de cearmos. – E, enquanto percorriam a grande escadaria,
    deixando o rei zangado e frustrado, sussurrou-lhe: – Sabe o que dizem os embaixadores
    franceses? Que Mistress Stuart é o sol nascente e que Lady Castlemaine terá de ter cuidado ou
    perderá a melhor rosa do seu chapéu. Referem-se ao rei, como é óbvio. – Olhou para Frances,
    sem qualquer malício nos olhos escuros. – Tenho motivos para confiar em si, Mistress Stuart, e
    também para lhe agradecer. Se o meu marido tivesse de escolher entre si e Lady Castlemaine, eu
    preferi-la-ia dez vezes.

  • Mas, Majestade, eu não desejo tal escolha.
    A rainha acariciou a face de Frances com a sua mão de criança, como se ambas soubessem
    que as mulheres, ainda que fossem rainhas, não controlavam deveras os seus próprios destinos.

  • Eu sei. E espero que não seja obrigada. Ajudá-la-ei sempre que puder, lembre-se disso.
    Frances assentiu com a cabeça. Era comovente a falta de poder que aquela amável rainha
    tinha na sua própria corte. Toda a autoridade e patronato emanavam do seu esposo, o rei. Se ela
    fosse uma pessoa diferente – mais semelhante a Barbara, na verdade –, matreira e
    manipuladora, ávida por construir castelos de influência, as coisas poderiam ser diferentes.
    Assim, ela vivia dos restos deixados cair da mesa real e Barbara até esses invejava.
    A injustiça da situação enfureceu Frances e esta decidiu que, se tivesse oportunidade,
    abandonaria aquele lugar e construiria uma vida na qual governaria o seu próprio reino, por
    mais pequena que fosse a esfera de influência que tivesse.
    De momento deixavam apenas a tempestuosa terra de Salisbury e mudavam-se para Oxford,
    onde a corte ocupou as instalações universitárias, como fizera nos tempos da guerra civil.


Charles Stuart, duque de Richmond, voltou a ler a carta de Frances que Mary lhe entregara.
Quando terminou, levou-a aos lábios, fitando os parques que rodeavam Cobham Hall. As folhas
já caíam das árvores e em breve a paisagem ficaria tão despida e mortiça como a sua própria
alma. Regra geral, agradava-lhe ver as entranhas da natureza a emergir, o suave veludo
acastanhado dos campos lavrados, à espera de serem semeados para a colheita do ano seguinte.
Desta vez, porém, não conseguia evitar o eco do desânimo que sentia no seu íntimo. Amara a
primeira esposa e sofrera profundamente quando ela e a filha de ambos haviam morrido. Mas o
segundo casamento fora o maior erro da sua vida.
No entanto, que lhe dissera Frances com tanta precisão? Que ele fizera a sua cama e deveria
deitar-se nela. E isso significava aproveitar a situação o melhor que pudesse e esquecer
Frances. Agora ela pedia-lhe que se envolvesse, procurando o irmão dela.
Encolheu os ombros. Era possível que ela lhe pedisse aquele favor como um gesto de simples
amizade. E, como amigo, ele deveria responder, expulsando quaisquer ideias acerca do que
poderia ter acontecido.
Foi com esse espírito que pediu que lhe preparassem a carruagem e que, puxado por seis
cavalos, se fez a caminho de Londres.
Para seu espanto, o duque encontrou uma cidade que depressa se regenerava. Contudo,

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