Deus fosse louvado, pois a casa da Viúva Wyatt, que ostentava o símbolo do unicórnio,
mantinha-se até então intacta. Porém, uma multidão irada agrupava-se à porta e começara a
puxar do interior da botica um jovem de ar estrangeiro e cabelos longos e escuros.
- Amarrem-no à tabuleta! – ordenava uma jovem. – O vigia viu-o a atirar um embrulho para
aqui para atear um incêndio. São os Franceses e os papistas que estão por trás desta destruição,
tão certo quanto eu ser protestante fiel.
Lançaram mãos ao rapaz, ignorando os protestos da viúva aos gritos, que garantia que ele era
o seu assistente e que o embrulho era inofensivo.
Não fosse o duque de York ter passado com uma companhia de guardas, o jovem decerto teria
acabado ali. - Deixem-no! – ordenou o duque, reconhecido de imediato como um homem de autoridade,
apesar de não envergar o seu uniforme. – Não se trata de obra dos Franceses nem dos papistas,
a culpa é do tempo tórrido que nos assou durante todo o verão sem uma gota de chuva. - Pois, está-se mesmo a ver que ele ia dizer isso, pois também é mais ou menos papista –
resmungou uma velha desdentada.
Não obstante, obedeceram-lhe e dispersaram. - Mistress Stuart? – perguntou, espantadíssimo. – Com mil demónios, que faz tão longe de
Whitehall, no meio deste perigo? O rei sabe que se encontra aqui?
Frances abanou a cabeça. - Não nos demoraremos, mas aqui a jovem Mary veio em busca do auxílio desta boticária,
pois a mãe dela adoeceu.
Apontou para a botica e para os ocupantes aterrorizados. O duque de York encolheu os
ombros. - O melhor remédio é não procurar remédio, se querem saber a minha opinião. Vamos,
homens! Temos de levar baldes para o Mercado Real e salvar o que pudermos.
Cavalgaram em direção à estranha luz cor de laranja, que fazia com que todos brilhassem
como se fosse o crepúsculo.
A multidão carrancuda, percebendo a familiaridade que ela tinha com as autoridades, abriu
alas com relutância para que Frances e Mary entrassem na botica. - Viemos perguntar-lhe se levaria em consideração uma incumbência – disse Frances à viúva,
enquanto fechava a porta e se encostava a ela. – Que seria a de acompanhar a Mary, que aqui
está, até perto de Gravesend, e aí cuidar da mãe dela, que sofre de febre quartã ou de uma
sezão. Pagar-lhe-emos bem. - Quase diria que ficaria aqui até arder no meio da casa. – A Viúva Wyatt abanou a cabeça,
parecendo de repente muito velha. – Mas a populaça é capaz de voltar e depois enforca-nos aos
dois, por isso, sim, irei, embora não possa prometer-lhe que consiga curar a sua mãe. – Apontou
para a fileira de grandes jarros e frascos ao fundo da loja. – Mas só irei se aceitarem ajudar-me
a guardar os meus jarrões na igreja.
E, assim, ajudaram-na a levar os jarrões de cerâmica, que continham essências, óleos e pós,
para a nave de St. Mary le Bow, empurrando e sendo empurradas pelas multidões de