Conforme Tom realçou num tom solene, em três dias a cidade mais exuberante do mundo fora
reduzida a um monte de ruínas, na qual as ruas só eram reconhecíveis pelos restos emaranhados
das igrejas que outrora as adornavam.
E, todavia, Frances estava pronta a admitir que o rei mostrara grande coragem e capacidade
de liderança, ordenando a destruição de mais edifícios para criar corta-fogos e enviando
comida aos milhares que haviam fugido e estavam acampados em Moorfields, na aldeia de
Islington, na Piazza de Convent Garden e no distante terreno de Highgate.
Porém, apesar de todas as ações tomadas, só quando o vento mudara de direção e
desaparecera se tinha o fogo finalmente extinguido.
A maioria dos homens sujeita à peste, à guerra e ao fogo poderia sucumbir ao remorso ou à
tristeza, ou até perguntar-se se teriam razão os profetas – teria a licenciosidade da corte de
Carlos provocado deveras tal devastação? Seria Londres realmente a Sodoma e Gomorra do
presente, visitada pelo fogo e o enxofre pela fúria dos céus? Contudo, o rei era um homem
racional e não um crente no castigo divino. Também era firmemente prático e tinham-se passado
apenas alguns dias quando tornou a convocar os seus inspetores e começou a planear uma nova
cidade.
Apesar do pesado golpe financeiro provocado pelo fogo e dos boatos de invasão, quer dos
Holandeses quer dos Franceses, estando ambas as nações ávidas por se aproveitarem das
dificuldades da Inglaterra, o rei manteve a coragem e começou a pensar numa negociação
pacífica para pôr fim à guerra e instilar um recomeço na nação.
Foi com este espírito otimista que uma ideia ocorreu ao rei Carlos.
- Assim que a paz estiver obtida, desejo que seja cunhada uma medalha de prata que tenha a
minha efígie de um lado e a de Britânia a dominar as ondas, do outro – decretou.
Mas quem poderia personificar a pureza, a beleza e a força de Britânia?
Dificilmente Lady Castlemaine, com a sua reputação maculada, ou a rainha, que era, afinal de
contas, portuguesa. Aos olhos de Carlos, só havia uma mulher adequada a tamanha honra.
E foi assim que, logo que as cinzas assentaram, Frances se viu numa viagem até à Casa da
Moeda, para que o seu retrato fosse captado por um certo Jan Roettier, o mestre gravador do rei.
Ela ficara muito sensibilizada com o pedido do rei. Ser o rosto do seu país era uma honra de
profunda repercussão, sobretudo numa altura tão nefasta para Inglaterra. Se Carlos acreditava
que uma medalha assim poderia animar a nação naquela hora tão sombria, ela teria todo o gosto
em aceder.
Especialmente porque a ideia deixara Barbara completamente de cara à banda. - É só para a subornar e convencer a ir para a cama com ele, quando todos os outros meios
falharam – dizia Barbara aos amigos, com os seus olhos violeta semicerrados. – Agora apela à
vaidade dela. Mas ela vai pagar por isso, tão certo quanto eu estar viva e respirar.
A verdade era que Frances se sentia grata por ter aquela distração. Quando ficava sozinha,
não parava de se interrogar como estaria a duquesa de Richmond, e se a viúva conseguiria curá-
la. Posar como Britânia seria uma nova experiência animadora. A rainha, sempre generosa,
ainda que pudesse ter sentido uma pontada de inveja, depressa a esqueceu.