Frances e o gravador calaram-se, surpreendidos com chegada inesperada.
- Intrometo-me num momento privado? – perguntou ele.
Roettier descreveu uma vénia profunda. - Com certeza que não, Vossa Majestade. Estava apenas a dizer a Mistress Stuart que, com a
minha vasta experiência, a considero um modelo adequado para uma medalha.
Carlos riu-se. - Aposto que estava, seu patife. E, diabos me levem, de facto é. Mistress Stuart tem uma
beleza rara e imaculada... eu bem sei, pois tenho-me esforçado ao máximo para a macular! – O
monarca riu-se com gosto da própria piada e depois suspirou. – Por vezes penso que é a única
coisa inocente em toda a minha corte. Por isso, atente à conduta que terá com ela, mestre
Roettier. Já não está em Antuérpia, homem. Neste país, temos formas de lidar com os nossos
cunhadores quando transgridem. Podemos cortar-lhes a mão com que gravam e pregá-la por
cima da bancada de trabalho. Pois, ou podem enfrentar o calvário dos ferros em brasa, por isso,
porte-se bem.
Reparando no rosto assustado do homem, Carlos apiedou-se dele. - Não tenha medo, isso foi na Idade das Trevas. Hoje em dia deixamo-los em paz, se forem
suficientemente bons no trabalho que fazem. Já viu o Grande Selo em que Mister Roettier está a
trabalhar, Belle? Quando estiver terminado, todas as leis promulgadas nesta terra terão a
gravura executada por Mister Roettier. Agora deixe-nos a sós por um momento, há algo que
desejo discutir com Mistress Stuart.
Assim que ficaram sozinhos, o rei aproximou-se e postou-se diante dela. Sem aviso, puxou-
lhe o camiseiro mais para baixo, até ela ficar com o peito exposto. De repente, os lábios do
monarca estavam no pescoço dela e ele ofegava. - Ouça-me... pare com esta resistência vã. – Fitou-lhe os calmos olhos cinzentos e uma
espécie de loucura apoderou-se dele. – Dar-lhe-ei qualquer coisa se se render! Será duquesa e
eu enviarei todas as outras embora, incluindo Lady Castlemaine. Terá propriedades, joias,
títulos, tudo! Só mantenho a Barbara porque a senhora não me concede o derradeiro favor e,
sem esse lenitivo, enlouqueceria. – Segurou-lhe o rosto e virou-o para si, magoando-a. – Mas
não é um lenitivo que eu desejo, mas amor. Se ao menos pudesse amar-me, Frances Stuart! - Mas sabe que não posso.
Os olhos dele fixaram-se nos dela. - Porém, se não pode dar-me o seu coração, contentar-me-ei com o seu corpo.
Ouviu-se uma batida ríspida na porta e Mister Roettier entrou, anunciando que tinha de dar
início ao trabalho antes que a luz desaparecesse. - Maldita seja a luz! – foi toda a réplica que obteve de Sua Majestade. – Pense nisso,
Mistress Stuart. Dar-lhe-ei uma semana para que venha ter comigo de livre vontade. Depois
disso, se tiver de ser forçada, assim será.
Foi uma hora silenciosa a que se seguiu, enquanto Jan Roettier esboçava o rosto encantador
de Frances Stuart, imaginando, mergulhado num silêncio ciumento e com uma certa inveja
vergonhosa, a sensação que se teria sendo um monarca tão poderoso que pudesse ordenar aos